DIA DA MENTIRA

Marcelo Nascimento da Rocha: este é o maior mentiroso da história do Brasil

Ele já foi piloto de avião do narcotráfico, herdeiro da Gol e enganou um órgão federal norte-americano; mas a história teve um final feliz

Marcelo Nascimento posa ao lado de Joana Prado, que interpretava a ‘Feiticeira’ no Caldeirão do Huck, enquanto se passava pelo herdeiro da Gol.Créditos: reprodução/Redes sociais
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Neste dia 1° de abril, em que é 'celebrado' o Dia da Mentira, nada mais justo do que coroar aquele que talvez tenha sido o maior mentiroso da história do Brasil — concorrendo com candidatos tão fortes quanto o especialista em disseminar fake news Jair Bolsonaro.

Marcelo Nascimento da Rocha nasceu em 1976 em Maringá - PR. Ao longo dos anos 1990 e 2000, cometeu diversos golpes de estelionato, sempre sob identidades falsas, e enganou muito bem, inclusive, a elite brasileira.

As mentiras começaram quando ele ainda era jovem e afirmava ter relações de parentesco com donos de companhias de ônibus para, por que não, viajar de graça.

Com 16 anos, Marcelo descobriu que tinha talento e passou a, informalmente, assessorar policiais da Polícia Civil paranaense, com muita lábia, informalidade e presença.

Lá, aprendeu tudo sobre o ofício de policial, e foi essa grande lição que o permitiu, quando passeava por uma praia no litoral do Paraná, assumir a identidade de um membro do Batalhão de Operações Especiais Táticas da Polícia Civil do estado, afirmando ter sido designado para a "Operação Praia".

Isso foi possível porque integrantes do grupo tático costumam se apresentar de forma anônima, usando vestimentas que cobrem o rosto. Bem-sucedido na mentira, Marcelo ficou hospedado na delegacia, andou pela cidade com a viatura da polícia e até abordou civis. No tempo livre, fazia churrasco e festa com o restante dos policiais.

A casa caiu quando Marcelo, que havia assumido a identidade de um policial que de fato existia, foi descoberto por alguém que conhecia a vítima do estelionato, e foi então levado sob custódia para a delegacia da capital.

Quando completou a maioridade, Marcelo decidiu se unir ao Exército, em que logo assumiu outra identidade: lá ele era um famoso campeão de jiu-jitsu, e, por ser assim tão experiente em artes marciais, podia se livrar das práticas físicas dos militares.

Mas o mais grave talvez tenha sido o negócio que Marcelo "fundou" enquanto integrava o baixo esquadrão do Exército, como uma pessoa de espírito empreendedor nato: vender motocicletas que pertenciam à instituição

Ele realmente passou dos limites quando, nos anos 1990, depois de ter se envolvido com o transporte de armas e outros itens ilegais que agradam ao narcotráfico — antes disso, é claro, ele fez cursos de aviação e se graduou piloto de aeronaves, um dos únicos fatos incontestáveis de sua biografia —, Marcelo enganou uma patrulha do órgão federal norte-americano Drug Enforcement Administration (DEA), durante uma curta passagem na Colômbia. 

Ele foi contratado para isso, mesmo: enganar os agentes do DEA e permitir a entrada e a saída de cargueiros do narcotráfico colombiano. E, para ser bem-sucedido na farsa, ele foi ao limite: fez com que um jato privado parecesse um jato militar. Isso envolveu modificações complexas, como "ativar a pós-combustão" do avião a fim de produzir um som similar ao de um jato de guerra. 

Sem contar todas as vezes que Marcelo quase foi morto em operações do Departamento de Operações de Fronteira da polícia do Mato Grosso do Sul em ações similares — mas não tão impactantes.

O golpe mais conhecido do estelionatário de carteirinha se deu em novembro de 2001, quando Marcelo, infiltrado numa festa de Carnaval fora de época, disse ser o herdeiro da Gol Linhas Aéreas, e assumiu a identidade de Henrique Constantino — um troca-peles profissional.

Ele chegou à festa de Carnaval de helicóptero, protegido por dois seguranças, e entrou no camarote do empresário Edson Sá como presença VIP.

Na pele do herdeiro da Gol, Marcelo, que era sobretudo cara de pau, deu diversas entrevistas a veículos de imprensa, interagiu com garotas (inclusive as famosas), deu um 'oi' para o apresentador Amaury Jr. (ele também tinha experiência em se passar por figuras da TV) e foi preso em seguida, quando voou para o Rio de Janeiro a fim de encontrar um grupo de celebridades que conhecera na fatídica festa. 

Ele foi capturado pela Polícia Federal do Aeroporto Santos Dumont e condenado a cumprir pena no presídio carioca de Bangu. Mas não ficou por lá.

Ainda chegou a ser solto e preso de novo em 2009, condenado pelos crimes de estelionato e falsidade ideológica, em Cuiabá. 

E, acredite ou não, a história de Marcelo tem um final feliz: em 2014, após ter alcançado o regime aberto, Marcelo abriu uma empresa de eventos e passou a atuar como palestrante numa ONG carioca, a Anjos da Liberdade, em que participa de iniciativas de ressocialização e reeducação para, é claro, a prevenção de golpes.

A história virou o filme VIP, estrelado por Wagner Moura e dirigido por  Toniko Melo, lançado no ano de 2011.

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