O motivo para a perda de pontos da Unidos de Padre Miguel, que foi rebaixada para a Série Ouro no Carnaval do Rio de Janeiro, gerou revolta nas redes sociais nesta sexta-feira (7). Em uma imagem que circula, é possível ver que uma jurada penalizou a escola em 0.1 por "excesso de termos Iorubá".
Com o enredo "Egbé Iyá Nassô", a escola fez uma homenagem à história do primeiro terreiro de Candomblé no Brasil, com destaque à resistência do povo negro. Por utilizar diversos termos em Iorubá, a escola chegou a disponibilizar um glossário para os jurados. O ponto foi descontado pela jurada Ana Paula Fernandes.
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No livro "Abre-Alas", a escola justificou o uso dos termos em Iorubá, reforçando que eram fundamentais para a história do samba-enredo. "As palavras em Iorubá do samba e do enredo são fundamentais, primeiro como vivência do Axé da Casa Branca, e, segundo, como forma de resistência do Axé de Iyá Nassô, iorubá de Oyó, contextualizando sua vida e sua trajetória".
No X, a escola se manifestou sobre o ocorrido e afirmou que "despontuar uma escola para fazer utilização do dialeto da sua cultura é minimamente uma avaliação despreparada". "Esquecer nossa oralidade para atender um acadêmico não negro não está nos planos da nossa escola", completou a UPM.
Internautas também se revoltaram com a justificativa e apontaram racismo na punição imposta pela jurada. Eles também criticaram o fato de a maioria dos jurados do Carnaval serem pessoas brancas, uma vez que a festa surgiu com a cultura da população negra e se refere à sua história e resistência.
O doutor em História da África e mestre em Educação pela UFRJ, João Raphael, afirmou que a nota da jurada demonstra, além de racismo, o despreparo dos jurados com relação aos temas relacionados ao continente africano.
"Retirar ponto da Unidos de Padre Miguel por excesso de termos em Iorubá, além de racismo explícito é um excelente exemplo do despreparo dos jurados com relação aos temas relacionados ao continente africano que esse ano, diga-se de passagem, povoaram belamente a Sapucaí. Precisamos de mais jurados especializados no tema África,@LIESA_RJ", publicou ele no X.
As vereadoras do Rio pelo PT, Tainá de Paula e Verônica Lima, também se manifestaram apontando racismo religioso e criticando a penalização à escola.
"A Unidos de Padre Miguel foi punida por usar 'muitos termos iorubá' no samba. Inaceitável! A cultura preta não pode ser censurada. O enredo homenageia Iyá Nassô, matriarca do candomblé Ketu, e merece respeito. O racismo religioso não pode ter espaço na Sapucaí nem em lugar nenhum!", publicou Verônica Lima.
"Orgulho de ser UPM! O carnaval do Rio merece jurados aptos a avaliar temas profundos e dedicados em valorizar as raízes históricas do Brasil. Respondam pra gente, jurados, o enredo sobre o candomblé deveria ter termos europeus?", questionou Tainá de Paula.
"Inadmissível"
A vereadora ainda continuou: "É inadmissível que a UPM seja rebaixada pela inaptidão do corpo de jurados, que não conhece a diversidade brasileira e não estuda os enredos", disse. "Não me assusta o fato de que esse júri é composto por 'doutores', referências da academia e quase majoritariamente brancos. Quer dizer que a branquitude fica com o papel de intelectuais, julgadores daqueles que nem querem saber?", completou.
Por fim, a parlamentar afirmou que não irá aceitar o "racismo disfarçado de ignorância" e declarou apoio à UPM. "Precisamos de jurados aptos à magnitude do nosso carnaval, uma festa que celebra a cultura preta no samba e na cidade do Rio de Janeiro. Todo meu apoio à comunidade de Vila Vintém e à UPM. A genialidade desse espetáculo vai ficar para sempre na história, vamos atrás de justiça".
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