A atriz Fernanda Torres revelou, durante a primeira coletiva de imprensa da equipe de "Ainda Estou Aqui" após a vitória no Oscar, onde o longa foi premiado na categoria de Melhor Filme Internacional, que recebeu uma mensagem do cineasta palestino Hany Abu-Assad, diretor de Paradise Now (2005), também indicado na premiação estadunidense na mesma categoria que os brasileiros.
"O Hany Abu-Assad me escreveu hoje, cineasta palestino de Paradise Now. Ele falou que estava muito feliz, que é a primeira vez que o filme pelo qual ele vota ganha. Ele é maravilhoso, que sorte", disse Fernanda Torres.
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Confira no vídeo abaixo a declaração de Fernanda Torres:
Foliões esculacham torturador de Rubens Paiva
No último domingo (2), o filme "Ainda Estou Aqui", dirigido por Walter Salles e protagonizado por Fernanda Torres, que dá vida à Eunice Paiva, que busca justiça pelo marido Rubens Paiva — sequestrado, torturado e assassinado por agentes da ditadura brasileira (1964-1985) —, conquistou o Oscar de Melhor Filme Internacional e fez história ao desbancar o francês "Emília Pérez", tido como favorito.
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O que pouca gente sabe é que um dos torturadores de Rubens Paiva, José Antônio Belham, vive no bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro, e recebe do Estado brasileiro um salário de mais de R$ 30 mil. Diante disso, alguns foliões foram à residência de Belham e realizaram um esculacho.
A deputada Jandira Feghali comentou: "Durante a ditadura militar, torturadores como Carlos Alberto Brilhante Ustra, coronel do Exército e ex-chefe do DOI-CODI de São Paulo, utilizaram métodos brutais para reprimir opositores políticos. Hoje, muitos desses agentes permanecem impunes, beneficiados pela Lei da Anistia de 1979, que perdoou crimes políticos e conexos praticados na ditadura, incluindo a tortura. A memória de Rubens Paiva e de tantas outras vítimas clama por justiça, lembrando-nos de que a verdadeira democracia não compactua com a impunidade".
Confira no vídeo abaixo o esculacho na residência de um dos torturadores de Rubens Paiva:
Fernanda Torres se pronuncia sobre o Oscar: "Resistência"
A atriz Fernanda Torres comentou, pela primeira vez, a vitória do filme Ainda Estou Aqui no Oscar, na categoria de Melhor Filme Internacional, no domingo (2). Em entrevista ao Jornal Nacional, ela relacionou a obra à sua mãe, Fernanda Montenegro, e a toda a geração que viveu sob a ditadura militar brasileira (1964-1985).
Fernanda destacou o tema central do filme: a transmissão de experiências entre gerações. "Temos que pensar que esse é um filme sobre a transmissão de uma experiência. A minha mãe é da mesma geração de Eunice Paiva. São duas mulheres que viveram um período muito terrível no Brasil e no mundo, que foi a Guerra Fria, e elas criaram filhos que, depois, foram capazes de escrever livros e atuar. Eu gosto de pensar que esse filme foi feito por duas crianças, que eram Marcelo Rubens Paiva e Walter [Salles], que estavam naquela casa e sofreram, por tabela, uma violência de Estado. Décadas depois, eles criaram algo para que aquela história nunca fosse esquecida," disse a atriz.
Ela também refletiu sobre o legado de sua mãe, Fernanda Montenegro, e a importância de resistir ao autoritarismo: "Eu me sinto assim também com relação à mamãe. De certa forma, eu levo o legado da minha mãe adiante. E fico pensando nas crianças que estão vivas hoje: que filmes elas farão daqui a 50 anos sobre a nossa resistência ao autoritarismo, aos movimentos antidemocráticos, à anticultura? É um filme sobre transmissão e sobre resistência ao longo do tempo."
Ainda Estou Aqui vence o Oscar de Melhor Filme Internacional
Domingo, 2 de março de 2025. Este é o dia que entrou para a história das artes no Brasil. O longa-metragem Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles e estrelado por Fernanda Torres, com participação de Fernanda Montenegro, venceu o Oscar de Melhor Filme Internacional, a primeira estatueta conquistada por uma produção brasileira.
O anúncio, no glamouroso Teatro Dolby, em Hollywood, na cidade de Los Angeles, nos EUA, foi feito pela atriz espanhola Penélope Cruz. Assim que o nome da obra brasileira foi anunciado em inglês, “I'm Still Here”, um rompante de emoção tomou a plateia, para os olhares incrédulos de Walter Salles, Fernanda Torres e Selton Mello, que no filme representou o deputado cassado Rubens Paiva, raptado e assassinado por agentes da Ditadura Militar (1964-1985), no dia 20 de janeiro de 1971.
Em seu discurso, o diretor Walter Salles agradeceu antes de tudo ao cinema brasileiro e dedicou o prêmio a Eunice Paiva, segundo ele uma mulher que decidiu não se curvar diante de uma perda provocada por um regime autoritário. Salles agradeceu ainda "às duas mulheres extraordinárias" que deram vida a Eunice, as atrizes Fernanda Torres e Fernanda Montenegro.
A premiação de Ainda Estou Aqui no mais relevante evento do cinema mundial levou ao conhecimento de espectadores por todo o globo um pouco da dramática História do Brasil de um passado relativamente recente. Sob 21 anos de uma violenta e sangrenta ditadura, o gigante país sul-americano somou milhares de casos de violações aos direitos humanos, como prisões arbitrárias, torturas, assassinatos e desaparecimentos forçados. Rubens Paiva, uma notória vítima desses crimes praticados sob um regime de terrorismo de Estado, nunca mais foi visto após ser levado de dentro de casa, no Rio, por agentes da repressão. Sua esposa, Eunice Paiva, que se tornaria uma reconhecida e incansável ativista, é protagonista do filme, interpretada por Fernanda Torres.