Novas evidências arqueológicas reforçam a narrativa bíblica sobre um confronto histórico ocorrido na cidade de Megido, local mencionado no Livro do Apocalipse como palco do Armagedom. A descoberta de fragmentos de cerâmica sugere que tropas egípcias estavam presentes na região durante o governo do rei Josias, de Judá, e do faraó Neco II, há aproximadamente 2.600 anos.
De acordo com os relatos bíblicos do Antigo Testamento e da Bíblia hebraica, em 609 a.C., Josias teria enfrentado Neco II em Megido. Agora, uma pesquisa conduzida pelo arqueólogo Israel Finkelstein, da Universidade de Haifa e da Universidade de Tel Aviv, indica que a cidade era ocupada por forças egípcias naquele período. Os resultados do estudo foram publicados em 28 de janeiro no The Scandinavian Journal of the Old Testament.
A análise de fragmentos de cerâmica revelou um grande número de peças egípcias e gregas, datadas do final do século VII a.C. Esse achado corrobora a hipótese de que mercenários gregos atuavam junto às tropas egípcias. Os pesquisadores identificaram a origem das peças a partir do tipo de argila utilizada e dos padrões de fabricação.
Embora as evidências confirmem a presença militar egípcia em Megido na época de Josias, não há comprovação direta de que o rei tenha, de fato, participado de uma batalha ali. Se sua morte ocorreu nesse contexto, resta incerto se ele faleceu em combate ou se foi executado como vassalo do faraó. Posteriormente, sua morte foi interpretada como um presságio da queda de Jerusalém para os babilônios, em 586 a.C., evento que resultou na destruição do Primeiro Templo.
Segundo Finkelstein, os relatos bíblicos sobre o episódio divergem. Enquanto o Livro dos Reis menciona a morte de Josias de forma breve, o Livro das Crônicas, escrito séculos depois, descreve um confronto decisivo. A proximidade temporal dos eventos narrados faz com que a versão do Livro dos Reis seja considerada mais confiável.
Localizada cerca de 30 quilômetros a sudeste de Haifa, Megido foi uma cidade estrategicamente relevante, situada em uma rota comercial e militar disputada ao longo dos séculos. Sua posição geográfica fez com que fosse ocupada por diferentes civilizações, incluindo cananeus, israelitas, assírios, egípcios e persas. O próprio termo "Armagedom" tem origem no nome da cidade e está associado à batalha final descrita no Apocalipse.
Escavações arqueológicas na região, realizadas desde a década de 1920, já identificaram mais de 20 camadas de ocupação histórica. A camada onde foram encontrados os fragmentos egípcios e gregos está entre aquelas que datam do período posterior a 732 a.C., quando Megido foi conquistada pelo império neoassírio sob o comando de Tiglate-Pileser III. Relatos indicam que, cerca de uma década depois, o reino do norte de Israel caiu para os neoassírios, levando à dispersão das chamadas "tribos perdidas" de Israel.
O debate acadêmico sobre os eventos de 609 a.C. permanece. Alguns especialistas questionam se houve, de fato, uma batalha entre Josias e Neco II, ou se o rei de Judá foi simplesmente executado como vassalo dos egípcios, que exerciam influência sobre a região após a queda dos neoassírios. Jacob Wright, historiador da Universidade Emory, sugere que Josias pode ter viajado a Megido para se encontrar com Neco, sendo morto por razões desconhecidas.
Embora o Livro dos Reis mencione apenas que Josias "foi morto" em Megido, a versão do Livro das Crônicas, escrita mais de um século depois, apresenta uma batalha épica. Pesquisadores, incluindo Finkelstein, destacam que a figura do rei Josias era tida como símbolo de piedade, e que sua morte pode ter sido um dos elementos que alimentaram a crença no Armagedom, a batalha final entre forças divinas e malignas.