LITERATURA

Márcia Tiburi e Igiaba Scego debatem impacto da colonização na identidade e subjetividade dos povos

Obras literárias como “Minha Casa é Onde Estou e “Complexo do Vira-Lata” serão discutidas em encontro literário do CCBB no Rio de Janeiro

Márcia Tiburi e Igiaba Scielo debatem poder, pertencimento e imaginário.Créditos: Fernando Rabelo e Simona Filippini
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Duas autoras feministas de diferentes continentes se encontram no Brasil para debater como o despertencimento e a humilhação moldam sociedades marcadas pelo colonialismo. O evento acontece no próximo dia 19 de março na Biblioteca Banco do Brasil, no CCBB Rio de Janeiro. Serão recebidas a autora italiana-somali Igiaba Scego e a filósofa brasileira Marcia Tiburi para uma conversa aberta ao público sobre as obras literárias "Minha Casa é Onde Estou" e "Complexo de vira-lata”.

Apesar de se encontrarem pela primeira vez no Brasil, as escritoras já compartilham uma conexão literária: Scego escreveu o prefácio de um dos livros de Tiburi publicado na Itália em 2020. "Esse convite para o Clube é uma coincidência muito feliz", afirma Tiburi.

Ao reunir duas perspectivas, o encontro propõe um debate profundo sobre como sistemas de opressão impactam tanto imigrantes em contextos europeus quanto cidadãos brasileiros submetidos a dinâmicas de exclusão social, ou seja, o impacto do colonialismo na identidade e subjetividade dos povos colonizados.

Os livros de Scego e Tiburi dialogam ao abordar como o colonialismo e a opressão estrutural moldam a forma como pessoas e sociedades se percebem. Em "Minha casa é onde estou", Igiaba Scego explora as complexidades do pertencimento e da identidade a partir da experiência de uma família somali na Itália. A autora traça um mapa afetivo entre Roma e Mogadíscio, evidenciando como a diáspora e o racismo desafiam a construção da subjetividade.

"É sobre um livro que fala de lar, de família, de negritude, de colonialismo, mas também fala de Roma, muita Roma. E, para mim, é uma maravilha que Roma tenha alcançado tão fortemente os brasileiros. Isso me deixa feliz”, reflete Scego, que é filha de imigrantes somalianos, formada em Línguas Estrangeiras pela Universidade La Sapienza de Roma e doutorada em Pedagogia na Universidade de Roma Tre. Sua obra como migração, identidade e transculturalidade. Em 2018, sua participação na programação principal da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) contribuiu para ampliar sua projeção no Brasil.

“Eu deveria dizer três países porque sou italiana e somali. E os meus doispaíses carregam sobre os ombros problemas diferentes, mas relacionados”

Já "Complexo de vira-lata", de Marcia Tiburi, investiga como a humilhação se tornou um mecanismo social para subjugar brasileiros e reforçar desigualdades. A filósofa parte da noção criada por Nelson Rodrigues para mostrar como o Brasil ainda reproduz estruturas coloniais que perpetuam a inferiorização de certos grupos.

Para Tiburi, é essencial compreender como os traumas históricos ainda moldam a sociedade brasileira. "A humilhação é utilizada para criar a noção de seres superiores e inferiores, e espero que meu livro ajude a compreender esse processo", comenta Tiburi. 

“As pessoas continuam humilhando e se deixando humilhar. Espero que meu livro ajude a entender por quê"

Com o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro para o Brasil com 'Ainda Estou Aqui', foi a primeira vez que o Brasil sentiu um tipo de pertencimento diante da valorização de uma produção brasileira no exterior, como explica essa matéria da Fórum.

Com curadoria de Suzana Vargas e mediação do poeta Ramon Nunes Mello, o Clube de Leitura vai aproximar a literatura das demais artes e promover reflexões sobre temas urgentes. O evento contará ainda com a presença de escritores nacionais e internacionais ao longo do ano, como Ney Matogrosso, Marcelo Rubens Paiva e José Miguel Wisnik.

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