Autor de "Ainda Estou Aqui", livro que deu origem ao filme de Walter Salles, Marcelo Rubens Paiva celebrou nas redes sociais a vitória histórica de Fernanda Torres no Globo de Ouro 2025. A atriz foi premiada em cerimônia neste domingo (5) em Los Angeles (EUA) por seu papel como Eunice Paiva, mãe do escritor, na produção.
Primeira atriz brasileira a conquistar um prêmio de atuação no Globo de Ouro, a filha de Fernanda Montenegro agora desponta como uma das favoritas a uma indicação ao Oscar 2025 de Melhor Atriz, cuja cerimônia está prevista para 2 de março.
“Tentaram acabar com o cinema brasileiro, criminalizar leis de incentivo à cultura, mas nós ainda estamos aqui. Eles se vão, a gente fica! Viva Fernanda Torres e Montenegro, Sônia, Marília, Glauber, Nelson, Babenco, Walter, Meirelles, Padilha, Kleber, Karim, Anselmo e tantos outros”, escreveu o filho mais novo de Eunice Paiva, a advogada e ativista representada no filme que dedicou sua vida à luta pelos direitos humanos, especialmente após a morte de seu marido, Rubens Paiva, durante a ditadura militar.
No governo Bolsonaro, a cultura foi vítima de ataques através do esvaziamento do Ministério da Cultura, do desmantelamento da Agência Nacional do Cinema (Ancine), das acusações de censura, das referências nazistas, das alusões à ditadura militar, da substituição de gestores e da influência da moral religiosa na seleção de projetos a serem financiados.
Além de tudo isso, o ex-presidente na época vetou o projeto da Lei Paulo Gustavo, que foi derrubado pelo Congresso Nacional. Em homenagem ao ator Paulo Gustavo, falecido em 2021, a Lei Complementar no 195, de 2022, foi criada para ajudar artistas e trabalhadores da cultura prejudicados durante a pandemia do coronavírus e segue até hoje, ao lado de outras iniciativas culturais, sendo um instrumento de sobrevivência a diversos projetos culturais independentes.
O ex-presidente, indiciado pela Polícia Federal (PF) por tentativa de golpe de Estado entre outros crimes, cuspiu na estátua do ex-deputado federal e desaparecido político Rubens Paiva. O fato, lembrado por Chico Paiva Avelino, neto do deputado, aconteceu em 2014, durante a cerimônia de inauguração do busto, que fica na Câmara dos Deputados.
Globo de Ouro a Fernanda Torres
A majestosa e justa atuação como Eunice Paiva no filme “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles, garantiu a vitória de Torres, superando “grandes nomes” da indústria cinematográfica como Angelina Jolie e Nicole Kidman. Fernanda, que contou com a torcida de veículos internacionais como The New York Times e Variety, entrou para a história como a primeira brasileira a vencer na categoria, realizando um feito que sua mãe, Fernanda Montenegro, quase alcançou em 1999, quando foi indicada por Central do Brasil, do mesmo Walter Salles.
Ser consagrada com o prêmio foi uma surpresa para Fernanda Torres, que, horas antes da cerimônia do Globo de Ouro, declarou que suas chances eram “nulas”. No discurso e com a estatueta em mãos, a atriz dedicou o prêmio inteiramente à mãe e falou sobre a importância da resistência através da arte.
"Meu Deus, eu não preparei nada porque eu não sei se eu estava pronta. Isso foi um ano incrível para os desempenhos de atrizes. Tantas atrizes aqui que eu admiro tanto. E, claro, eu quero agradecer ao Walter Salles, meu parceiro, meu amigo. Que história, Walter! E, é claro, eu quero dedicar esse prêmio à minha mãe. Vocês não têm ideia. Ela estava aqui há 25 anos. E isso é uma prova que a arte pode resistir através da vida. Até durante momentos difíceis pelos quais a personagem que eu interpretei, Eunice Paiva, passou. E a mesma coisa que está acontecendo no mundo hoje. Tanto medo"
Leia o discurso completo: Fernanda Torres faz história para além do cinema: leia discurso completo da atriz no Globo de Ouro
Entrevista à Fórum
Uma das personagens que acompanhou a filha de Fernanda Montenegro, Fernanda Torres (Eunice Paiva, no filme) ao longo de quase toda a história, Zezé, empregada da casa, atua como um importante braço direito de Eunice e suas filhas no regime militar. A personagem é baseada na vida real, assim como Eunice.
Dar vida a Maria José, ou Zezé, surgiu de forma completamente inesperada para a atriz juiz-forana Pri Helena. “A história me trouxe desafios que iam além da interpretação. Quando recebi o convite para o teste, foi um momento inesperado. Lembro que a produtora de elenco, Letícia Naveira, encontrou uma cena minha em uma plataforma e, do nada, recebi a mensagem para participar do teste. Eu nem sabia que estava sendo considerada!”, contou ela em entrevista à Fórum antes do lançamento do filme.
“O processo de construção foi imersivo e revolucionário. A Zezé é uma personagem que está ali, ao lado de Eunice Paiva, uma mulher que teve a vida atravessada pela ditadura assim como muitas outras. Ela é o apoio essencial para aquela família diante de todas as atrocidades que acometeram os Paivas”, ressaltou à época sobre a figura de Zezé ser um pilar na vida de Eunice. “O apoio emocional e prático que ela oferece constrói uma parceria entre essas duas mulheres, ambas enfrentando a violência da época de formas diferentes”.
ENTREVISTA COMPLETA: 'Uma produção imersiva e revolucionária', afirma atriz de ‘Ainda Estou Aqui’