HISTÓRICO

Oscar: Fernanda Torres é indicada ao prêmio de Melhor Atriz

Atriz concorre na categoria 26 anos após indicação de sua mãe, Fernanda Montenegro, e visibiliza história e luta de Eunice Paiva pela memória como nunca antes

Fernanda Torres, que ganhou o Globo de Ouro, é indicada ao Oscar na categoria Melhor Atriz.Créditos: Golden Globes / Divulgação
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Fernanda Torres foi indicada ao Oscar 2025 na categoria de Melhor Atriz pela atuação no filme 'Ainda Estou Aqui'. Além de concorrer na categoria de Melhor Filme Internacional, a obra surpreendeu ao garantir uma indicação na categoria de Melhor Filme, um feito inédito para uma produção brasileira.

A cerimônia de premiação acontecerá no dia 2 de março em Los Angeles, com apresentação de Conan O'Brien. A atriz brasileira disputa o prêmio com grandes nomes como Mikey Madison, Demi Moore, Karla Sofía Gascón e Cynthia Erivo. Essa indicação marca um momento histórico para o cinema brasileiro, ocorrendo 26 anos após a indicação de sua mãe, Fernanda Montenegro, por "Central do Brasil".

O filme "Ainda Estou Aqui" também foi indicado aos prêmios Melhor Filme Internacional e Melhor Filme. É a primeira vez que uma produção nacional concorre na categoria principal do Oscar. O diretor Walter Salles, por sua vez, alcança sua terceira indicação, consolidando sua trajetória como um dos cineastas mais respeitados do país.

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Fernanda Torres faz história mais uma vez; legado já está aqui

O Globo de Ouro popularizou não apenas a maestria com que Fernanda Torres conduziu a interpretação no filme, mas também o lugar da memória na história. Eunice Paiva representa o que muitas mulheres passaram naquele tempo e reflete a angústia de inúmeras famílias brasileiras que enfrentaram a violência do regime militar.

No caso de Eunice, essa dor ultrapassou os 21 anos da repressão e a acompanhou até o fim da sua vida na luta para esclarecer o desaparecimento de Rubens Paiva. O filme expõe uma ferida aberta no Brasil e os fantasmas da ditadura 60 anos após o golpe.

Fernanda Torres, que contou com a torcida de veículos internacionais como The New York Times e Variety, entrou para a história como a primeira brasileira a vencer um Globo de Ouro na categoria, realizando um feito que sua mãe, Fernanda Montenegro, quase alcançou em 1999, quando foi indicada por Central do Brasil, do mesmo Walter Salles, mas não havia levado o prêmio. A atriz alcançar o auge de sua carreira aos 59 anos, especialmente quando ela divide esse sucesso com a mãe, que continua ativa e radiante aos 95, serve como um alento para as mulheres e um combate direto ao etarismo.

Ser consagrada com o prêmio foi uma surpresa para Fernanda Torres, que, horas antes da cerimônia do Globo de Ouro, declarou que suas chances eram “nulas”, já que a academia só premiava filmes estadunidenses ou europeus. No discurso e com a estatueta em mãos, a atriz dedicou o prêmio inteiramente à mãe e falou sobre a importância da resistência através da arte.

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Eunice Paiva: a luta por verdade, justiça e memória 

“Eu e meus filhos cansamos de dar murro em ponta de faca”. Foi com essa afirmação à revista Manchete, em novembro de 1978, que Eunice Paiva resumiu os esforços da família para descobrir o paradeiro de Rubens Paiva, o ex-deputado federal cassado e desaparecido político na época da ditadura militar.

A história da família Paiva, que expõe uma das várias mentiras contadas por militares sobre presos políticos e vítimas do regime, é retratada no filme 'Ainda Estou Aqui', adaptação da obra homônima do livro do jornalista Marcelo Rubens Paiva. O filme é cotado para levar o Oscar este ano após a conquista do Globo de Ouro por Fernanda Torres, que interpreta a ativista, e pela relevância nacional do assunto.

Um levantamento feito pelo Aos Fatos revela a trajetória de luta de Eunice na busca por documentos e obtenção de provas sobre o paradeiro de Rubens Paiva para refutar a farsa criada pela ditadura sobre o destino de seu marido. Militares e jornais alinhados ao regime mentiram sobre a prisão e o assassinato do deputado.

Rubens Paiva foi retirado de sua casa no dia 20 de janeiro de 1971 por militares, supostamente para prestar depoimento, e nunca mais foi visto. No dia seguinte, Eunice e Eliana, uma das filhas do casal, também foram presas. Eliana foi libertada após o interrogatório, mas Eunice ficou detida por 12 dias. Apesar disso, as versões oficiais negavam a detenção da família Paiva e chegaram a desmentir o assassinato.

Para que tudo isso não fosse esquecido, Eunice Paiva se encarregou de registrar os eventos em uma carta que enviou ao Conselho de Direitos da Pessoa Humana em 20 de fevereiro de 1971. Um ano depois, Eunice Paiva concluiu o curso de Direito, munida de um propósito claro: desvendar o mistério em torno do desaparecimento de seu marido, provar e responsabilizar os culpados.

Leia na reportagem da Fórum: como Eunice Paiva desconstruiu farsa criada pela ditadura sobre seu marido

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