MC Soffia quebrou um padrão logo no início de sua carreira: ganhou notoriedade e holofotes aos 11 anos de idade, mas, diferente de muitos artistas mirins que surgem, ela continuou sua trajetória e hoje é um dos grandes destaques da música brasileira em geral e, especificamente, do rap nacional.
De lá para cá, MC Soffia brilhou muito: em 2016, ela se apresentou ao lado de Karol Conka na abertura dos Jogos Olímpicos do Rio 2016. Mas esse seria apenas um dos primeiros marcos de sua carreira. Desde então, a jovem rapper se apresentou no Lollapalooza (2024), realizou sua primeira turnê internacional e marcou presença no primeiro fim de semana do Rock in Rio 2024.
Além de se apresentar no Rock in Rio, MC Soffia participou do tradicional leilão promovido pelo evento, o "Fans for Change", que leiloa objetos doados pelos artistas, com os valores arrecadados destinados às ONGs "Ação da Cidadania" e "Gerando Falcões". A nossa entrevistada doou um figurino para o leilão.
Na entrevista exclusiva a seguir, MC Soffia fala de maneira muito sincera sobre seus posicionamentos políticos e os limites que coloca nessa questão. A cantora destaca que não se apresentaria em eventos organizados por grupos de direita, pois considera que esse agrupamento da sociedade não deseja o bem das pessoas negras do Brasil nem dos artistas de rap, funk e trap.
Além disso, MC Soffia também fala sobre a experiência de subir no palco do Rock in Rio e sobre o lugar da mulher negra no cenário da música brasileira atualmente.
Fórum - Você surgiu na cena da música brasileira aos 11 anos de idade e esteve no palco do Rock In Rio. O que passou pela sua cabeça?
MC Soffia - Ai, o que passou pela minha cabeça quando eu subi num palco, né, tão grandioso quanto o do Rock in Rio, foi que era um sonho realizado. Eu, desde pequenininha, sempre quis ser cantora, comecei a cantar com 6 anos de idade, já sabia o que queria ser.
E sendo artista e pisciana, eu sempre sonhei em me apresentar no Lollapalooza, no Rock in Rio, no Coachella, sabe assim, em festivais nacionais e internacionais grandiosos. E com meus sonhos, fui realizando. Então, este ano eu me apresentei no Lollapalooza, no Rock in Rio e fiz minha Eurotour e minha turnê internacional.
São 13 anos de carreira, né, e já me apresentei em outros palcos grandes também, como na abertura das Olimpíadas. Então, cada palco, grande ou pequeno, em que me apresento é um sonho realizado, porque vejo que meu trabalho está chegando a outros lugares. O rap está mudando minha vida e a vida de outras pessoas. Então é isso, é. Não desacredito e continuo.
Fórum - Hoje todos os grandes festivais colocaram artistas de rap, funk e trap em seu line-up. O que você acha disso?
MC Soffia - Eu acho que é mais que obrigação. O ritmo é para todos. Todos os ritmos têm que estar nos festivais, até porque festivais musicais têm que ser para todos os gostos, né, para conhecer outros artistas, tanto famosos quanto desconhecidos, para também ter a oportunidade de estar lá.
Então, acho que deve ser respeitado. Tem que sim respeitar o ritmo, porque o ritmo é para todos.
Fórum - Estamos em ano de eleição e muitos candidatos têm procurado artistas de rap, funk e trap. Qual sua opinião sobre isso?
MC Soffia - Eu nunca parei para pensar tanto sobre esse assunto, porque eu sempre fui menor de idade, então sempre me privavam desses assuntos sobre política, mas eu fazia política nas minhas músicas, lutando contra o racismo, contra o preconceito, enfim.
Mas hoje já entendo melhor, já voto também. Minha família sempre foi muito militante, sempre me ensinou tudo, muito aberta para o lado que eu quisesse escolher, mas sempre me apoiando e tal. E eu acho que a música tem um papel muito forte, principalmente nas periferias, especialmente o funk, o rap e o trap, que eram músicas criminalizadas, mas mesmo assim os artistas continuavam lutando e salvando vidas na galera da periferia.
Então, acho que vai do artista aceitar ou não que os políticos peçam ajuda deles, mas quando vem assim atrás de mim para falar disso, falar daquilo, eu não falo, não.
Eu não me envolvo com essa galera de votação para ajudar, não. Mas tem artistas que aceitam, os acordos que fazem, e é isso. A música é política também, então se for para passar uma mensagem que a periferia precisa e a política entende que o funk e o rap têm uma força muito grande, não há por que não se unir.
Fórum - Vamos trabalhar com um cenário hipotético: há algum tipo de evento político em que você não se apresentaria?
MC Soffia - Evento da direita. Evento de um povo que não nos quer bem... Assim, né, todos os babados fortes que têm esse outro lado...não faria, não.
Mas, tipo, se fosse para ter que falar isso ou aquilo, aí eu não faria, não. Mas agora, se o evento for de direita e o dono também for, eu não sei, porque o mundo é bem diverso. Seria mais se fosse um evento feito para esse movimento da direita vencer, isso e aquilo, aí não.
Fórum - Você é uma artista jovem, mulher e negra. Na sua avaliação, como está o lugar da mulher negra no cenário pop brasileiro?
MC Soffia - Então, no cenário pop, eu sempre acompanhei, Ludmilla, Iza, e outras pretas do pop, e também as americanas, Beyoncé, Rihanna, Nicki Minaj, eu sempre me inspirei bastante em mulheres do pop, tanto de fora quanto do Brasil.
Mas sempre me focando muito na mulher do rap, que é o rap. Então eu sempre vi como uma referência para mim. Hoje eu posso estar aqui cantando e abertamente colocando balé, fazendo um ritmo mais dançante, fazendo um ritmo mais militante, porque outras mulheres pretas vieram antes e abriram caminho para que eu pudesse estar aqui cantando abertamente, conquistando públicos.
Fórum - Mas o cenário da música está mais ou menos machista?
MC Soffia - Menos machista não está. Eu acho que a gente sempre pode melhorar.
Agora, as mulheres estão em ascensão. Cada vez mais tem uma galera que está seguindo, está nos ouvindo, mas ainda é sempre menos. A gente sempre fica atrás dos homens. Eu acho que a gente também tem que poder aparecer nas listas das mais ouvidas, ganhar dinheiro, um dinheiro assim que vejo os caras ganhando e fico, "como, gente, que ganha tanto esse dinheiro", sabe?
Então eu acho que a mulher também pode. E não só no ritmo, né. Em muitas áreas o homem sempre ganha mais. Eu acho que já dá para mudar, a geração já mudou.