Assim como "o Carnaval é invenção do Diabo que Deus abençoou", como canta Caetano, o Dia dos Namorados é uma invenção do comércio que o povo, especialmente o romântico, abençoou.
Hoje, 12 de junho, comemora-se o Dia dos Namorados no Brasil — e somente no Brasil (no resto do mundo é comemorado em 14 de fevereiro, o chamado Valentine's Day (ou Dia de São Valentim).
O 12 de junho como Dia dos Namorado no Brasil foi uma criação do pai do ex-prefeito e governador de São Paulo João Doria, também chamado João Doria, a pedido da Associação Comercial de São Paulo para aquecer as vendas no meio do ano.
O sucesso foi tanto que se espalhou pelo país e hoje é um dos dias de maior movimento no comércio. Todos os casais românticos trocam flores, bombons, jantares, noites românticas em motéis, aquecendo o comércio e as relações.
Mas, se por um lado o Dia dos Namorados tem toda essa festa, há o outro lado, dos solitários, dos corações sem ninguém, por imposição ou opção, que sempre ficaram excluídos da data.
Mas o professor de História, escritor e estudioso da cultura popular Luiz Antônio Simas, fez uma descoberta que interessa exatamente aos solitários, aos eremitas, aos antissociais. 12 de junho também é dia deles.
Vamos deixar o professor Simas explicar o por quê:
Luiz Antônio Simas, que é autor de, entre outros, Santos de casa: fé, crenças e festas de cada dia, esclareceu mais o assunto, numa entrevista à BBC.
Simas acredita que essa dissonância tem sua lógica por algumas razões. Primeiro porque “o próprio São Valentim não é um santo que se popularizou no Brasil”. Isso já contribuiu para que a data de fevereiro não pegasse mesmo.
Também há o fato sazonal: no hemisfério norte, a data coincide com o finzinho do inverno e os preparativos para o início da primavera. “Coisa que no Brasil não faria o menor sentido. Tem essas condicionantes”, contextualiza.
Daí que quando o publicitário Doria inventou a comemoração, ele estava na verdade de olho nos livros-caixa.
“Junho é um mês de desaquecimento de vendas e isso foi uma maneira de pegar um certo vazio comercial e criar uma data”, diz Simas.
A conveniência foi colar em Santo Antônio. Mas não se atentou para o Onofre.
Quem é Santo Onofre
Eremita clássico, o que se sabe de Santo Onofre veio de outro santo pouco conhecido, Pafúncio. Ele teve um encontro com Onofre no deserto, perto de uma gruta, onde o eremita viveu solitário por 60 anos, numa vida dedicada à meditação e a Deus.
“O velhinho o convidou a ficar com ele. Onofre contou-lhe sua vida, dizendo que era monge e vivia em uma comunidade monástica, depois se fez eremita e ali na gruta vivia sozinho havia mais de 60 anos.”
“São Pafúncio conta que passaram a noite rezando e conversando sobre as coisas de Deus. Ao romper da aurora, São Pafúncio notou que o santo homem estava exangue e prestes a entregar seu espírito a Deus. Vendo o espanto de São Pafúncio, o santo eremita o consolou dizendo que, na sua infinita misericórdia, Deus o tinha enviado à sua gruta para sepultá-lo. Assim dizendo, Onofre abençoou-o e morreu.”
De acordo com os relatos de Pafúncio, assim que Onofre morreu “a gruta desabou e a palmeira secou”.
Portanto, eremitas, solitários, antissociais, se quiserem têm como comemorar, com um brinde solitário e solidário a Santo Onofre, porque o 12 de junho é Dia dos Namorados e também é de vocês e Santo Onofre.