AMÉFRICA

Lélia Gonzalez ganha exposição no Sesc inspirada em sua produção intelectual

O evento também marca o relançamento de obra fundamental da filósofa, referência no pensamento antirracista

Lélia Gonzalez ganha exposição no Sesc inspirada em sua produção intelectual.Créditos: Marcio Vasconcelos, Tessi Sodokpa – Cotonou, 2009.
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A filósofa e militante do movimento negro brasileiro, Lélia Gonzalez (1935-1994), vai ganhar, sob a curadoria de Glaucea Britto e Raquel Barreto, a partir do dia 26 de junho, uma exposição no Sesc, em parceria com a editora Boitempo, cujo nome é "Lélia em nós: festas populares e amefricanidade".

A exposição, que fica em cartaz até 24 de novembro de 2024, foi inspirada pelo livro "Festas populares no Brasil", que será relançado pela editora Boitempo, e promove uma celebração da cultura afro-brasileira – ou amefricana, como propõe a autora – a partir de um recorte que estabelece diálogos e reflexões suscitados pela produção intelectual de Gonzalez, uma proeminente ativista do movimento negro brasileiro e importante teórica do feminismo negro, cuja morte completará 30 anos em 10 de julho de 2024.

Com uma seleção de produções contemporâneas e de diferentes períodos, reunida em cinco eixos temáticos, "Lélia em nós: festas populares e amefricanidade" apresenta pinturas, fotografias, documentos históricos, objetos, performances, instalações e vídeos de artistas como Alberto Pitta, Heitor dos Prazeres, Januário Garcia, Maria Auxiliadora, Nelson Sargento e Walter Firmo, além de 12 trabalhos inéditos, de artistas como Coletivo Lentes Malungas, Eneida Sanches, Lidia Lisboa, Lita Cerqueira, Manuela Navas, Maurício Pazz, Rafael Galante e Rainha Favelada.

Além disso, a exposição do Sesc também promove um diálogo da obra de Lélia Gonzalez com sonoridades e musicalidades, tanto do universo das festas e festejos brasileiros quanto das intervenções do DJ Machintown e do trombonista Allan Abbadia, além de registros fonográficos da discoteca pessoal de Lélia. Parte do acervo do Instituto Memorial Lélia Gonzalez (IMELG), a coleção reúne álbuns de artistas como Wilson Moreira e Nei Lopes, Luiz Gonzaga, Tamba Trio, Clementina de Jesus, Jamelão e Lazzo Matumbi.

Partindo de conceitos teóricos desenvolvidos por Lélia Gonzalez, como a categoria político-cultural de amefricanidade – termo cunhado pela acadêmica em contraposição à ideia hegemônica de afro-americanidade para, segundo ela, “ultrapassar as limitações de caráter territorial, linguístico e ideológico” e redimensionar a influência da diáspora atlântica para a formação das Américas do Sul, Central, do Norte e Insular –, a mostra convida o público à compreensão do potencial da cultura popular afro-brasileira como tecnologia de identidade e resistência.

Obra fundamental de Lélia Gonzalez é relançada no Brasil
 

A editora Boitempo anunciou o início da pré-venda de uma obra fundamental na carreira de Lélia Gonzalez: trata-se de "Festas Populares no Brasil", lançada em 1987, mas que, ao longo dos últimos tempos, caiu no esquecimento.

Na obra, Lélia Gonzalez faz uma análise da formação do Brasil a partir das festas populares do país, "de norte a sul, com textos informativos que apresentam as marcas da herança africana na cultura brasileira, a integração entre o profano e o sagrado, e a reinvenção das tradições religiosas na formação do imaginário cultural brasileiro".

À época, o livro "Festas Populares no Brasil" gerou impacto e foi premiado; no entanto, ainda é uma obra pouco conhecida e citada no Brasil.

No prefácio da nova edição de "Festas Populares no Brasil", a pesquisadora Raquel Barreto analisa esse "esquecimento" imposto à obra de Lélia Gonzalez e afirma que isso "não é fortuito, mas sim um capítulo do violento apagamento da sua produção intelectual".

Capa da nova edição de "Festas Populares no Brasil"

Quem foi Lélia Gonzalez 


Lélia Gonzalez (1935-1994) foi uma antropóloga, professora e ativista, e é uma das figuras mais influentes do movimento negro e feminista no Brasil. Nascida em Belo Horizonte, Minas Gerais, Lélia era filha de uma empregada doméstica e de um ferroviário, experiências que moldaram sua dedicação à justiça social e à igualdade racial.

Formada em Filosofia e História pela Universidade do Estado da Guanabara (atual UERJ) e com mestrado em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Lélia dedicou sua carreira acadêmica ao estudo das culturas afro-brasileiras e à defesa dos direitos das mulheres e da população negra.

Lélia Gonzalez destacou-se por unir teoria acadêmica e luta social prática. Em 1978, foi uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado (MNU), atuando ativamente na criação de espaços para discutir e combater o racismo e o sexismo no Brasil.

Além de suas atividades acadêmicas e de ativismo, Lélia se envolveu na política, candidatando-se a deputada federal e estadual pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e, posteriormente, pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT). Embora não tenha sido eleita, sua participação política inspirou muitas outras mulheres negras a se envolverem na política.

Além disso, Lélia Gonzalez é lembrada por sua contribuição à valorização da cultura afro-brasileira e pela luta contra o racismo e a discriminação de gênero. Seu trabalho influenciou gerações de ativistas e acadêmicos, consolidando seu legado como uma das figuras mais importantes na defesa dos direitos humanos no Brasil.
 

Serviço: 

Exposição Lélia em nós: festas populares e amefricanidade

Sesc Vila Mariana 
Rua Pelotas, 141 - Vila Mariana – São Paulo
Abertura da exposição e lançamento do livro em 26 de junho, quarta-feira, às 19h
Horário de visitação: de 27 de junho a 24 de novembro de 2024; terça a sexta, das 10h às 21h; aos sábados, das 10h às 20h; domingos e feriados, das 10h às 18h.
Agendamento de grupos: agendamento.vilamariana@sesc.org.br 
Entrada gratuita