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‘Round 6’ lança 2ª temporada menos de um mês após tentativa de golpe na Coreia do Sul

Reestreia ocorre três anos desde o sucesso superestimado da série, que desmistifica mitos do capitalismo através do drama e do horror

Série Round 6.Créditos: Divulgação/Netflix/YOUNGKYU PARK
Escrito en CULTURA el

Após um hiato de mais de três anos desde seu sucesso superestimado em 2021, a série sul-coreana "Round 6" retorna com a segunda temporada nesta quinta-feira (26). Os novos episódios chegam após uma recente tentativa de golpe na Coreia do Sul, reflexo da crise política que vive o país. 

Menos de um mês após a tentativa fracassada de golpe de Estado que culminou na declaração de lei marcial, o presidente Yoon Suk-yeol viu seu governo à beira do colapso. Centenas de milhares de manifestantes tomaram as ruas, exigindo o fim do regime excepcional e a renúncia do presidente. A crise política desencadeou uma votação de impeachment no parlamento no início de dezembro, intensificando ainda mais a instabilidade no país.

Na nova temporada, que já foi disponibilizada de forma completa na Netflix, o protagonista, vivido pelo ganhador do Emmy Lee Jung-jae, começa uma confrontação direta com os organizadores da competição após conquistar a última edição. A nova edição dos jogos apresentada na segunda temporada oferece aos participantes a chance de votar, em cada rodada, se seguem ou não na competição milionária – colocando suas vidas em risco.

Os atores enxergam laços entre a ficção e a realidade. "Quando você olha os desenvolvimentos sociais atuais na Coreia, como a declaração de lei marcial e o impeachment, fica claro como votar é importante. Como é uma oportunidade preciosa e importante. E como devemos tomar essa decisão com sabedoria", afirmou Hwang ao g1.

“Espero que, com a segunda temporada, consigamos pensar que tipo de caminho queremos tomar para nós mesmos. Que tipo de decisão queremos tomar. E espero que sirva como outra oportunidade para nós pensarmos sobre esses problemas”

Críticas pertinentes à corrosão da humanidade

Em setembro de 2021, "Round 6" quebrou recordes ao se tornar a série mais assistida da Netflix. A produção sul-coreana também marcou história ao ser a primeira série em língua não inglesa indicada ao Emmy de melhor drama.

Ao longo dos 9 episódios da primeira temporada acompanhamos a missão desses jogadores em busca do dinheiro que vai resolver as suas vidas, porém, também somos apresentados àqueles que criaram, conduzem e fazem apostas em torno do jogo.

Em várias cenas, aparece o líder do jogo, sempre mascarado, bebendo uísque e se divertindo e excitando com o sofrimento dos participantes do jogo. Há mais do que o representado em tela. O roteiro de Round 6 se aproxima do filme, também sul-coreano, “Parasita”, onde o roteiro trabalha com a corrosão do caráter e da ética na vida sob o modo de produção capitalista.

Tanto a série quanto o filme aprofundam a crítica ao modo de vida no capitalismo, revelando de forma incisiva que a questão não se resume a indivíduos que escolheram abandonar valores éticos e humanitários em nome do dinheiro. O que se expõe é um sistema que não oferece alternativas genuínas, mas, ao contrário, oferece falsas opções.

Por outro lado, somos confrontados com a realidade de como os detentores dos meios de produção vivem de costas para a miséria, ao mesmo tempo em que lucram com ela. Em um ponto crucial de Round 6, um dos milionários que aposta no jogo revela a verdadeira essência dessa dinâmica: após se cansar das apostas em corridas de cavalos, ele afirma que os jogos envolvendo pessoas são mais interessantes e divertidos.

Como já mostrou um artigo escrito pelo jornalista Marcelo Hailer, da Fórum, a partir de um jogo mortal com corpos humanos, Round 6 coloca em questão a capacidade do modo de produção capitalista de corroer a humanidade; a engenhosidade deste sistema consiste em, diariamente, convencer parcela das pessoas de que sim, vale a pena passar por cima de amigos, amores e parentes para obter vantagem ou ganhar o prêmio e “resolver os problemas”.

Por detrás da ultraviolência da série estão questões que fazem parte do cotidiano da vida contemporânea, seja na Coreia, EUA, Brasil… enfim, a violência e a exploração do homem pelo homem se espalharam como um cancro por todos os cantos do planeta. Round 6 é o espetáculo da miséria, mas também como se corrói subjetividades lhes ofertando dinheiro e sonhos de liberdade.

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