CULTURA

Clássico do cinema marginal, Meteorango Kid é relançado no Festival de Brasília

55 anos após ganhar o prêmio de melhor filme na escolha do público, o herói intergaláctico de André Luiz Oliveira volta ao Cine Brasília inteiramente restaurado

Cena de Meteorango Kid. Fotos: Mário Cravo Neto
Escrito en CULTURA el

55 anos após ganhar o prêmio especial do júri e de melhor filme na opinião do público, Meteorango Kid – O Herói Intergaláctico, o clássico do cinema marginal dirigido por André Luiz Oliveira retorna ao Festival de Brasília para ser relançado neste domingo, 1º de dezembro, inteiramente restaurado, nas telas do Cine Brasília. "Parece um outro filme, a imagem vem para a frente", diz o cineasta.

Em 1969, a censura tentou até o último momento impedir a exibição do filme no festival –Meteorango só seria lançado comercialmente três anos depois. Segundo André, acabaram decidindo exibir o filme com a presença dos censores na cabine de projeção, para controlar a altura do som durante os diálogos "indesejáveis"... 

Cartaz do filme, criado por Rogério Duarte, no saguão do festival

O cinema marginal ou udigrúdi, uma gozação dos brasileiros com o termo underground, surgiu durante a ditadura militar após a decretação do AI-5 e a intensificação da tortura e da censura no país. Cineastas muito jovens (André Luiz tinha 21) voltavam suas câmeras para personagens igualmente jovens e sem rumo. Não à toa, André preferia que existisse o termo "cinema desesperado" para definir o período.

A trama se passa no dia do aniversário do Meteorango Lula (Lula Martins), um estudante universitário que nos lembra nossa própria fase de estudantes universitários magricelas e fumando maconha com os colegas no colchão instalado na sala da república. O anti-herói intergaláctico é uma espécie de versão tropical do Mersault de Albert Camus, um existencialista sob o sol de Salvador, se rebelando, gargalhando ou tirando melecas.

Lula Martins em cena do filme
Cena de Meteorango

O cineasta conta que a restauração foi possível porque o produtor Paulo Sacramento, que se dedica a restaurar a obra de José Mojica Marins, o Zé do Caixão, financiado por uma fundação europeia, aproveitou para incluir Meteorango Kid no pacote. "O negativo do filme estava muito ruim, bem deteriorado, e foi feita a cópia 4K a partir de um internegativo que existia, porque na época ele foi para o festival de Pesaro, na Itália, e foi feito um internegativo", conta.

O público do festival de Brasília vai poder assistir pela primeira vez a cópia em 4K (altíssima resolução) de Meteorango. Em outubro, houve um lançamento no Cine Glauber Rocha, em Salvador, dentro da mostra que aconteceu em homenagem ao cineasta baiano, mas a qualidade era 2K.

Uma pena que o ator e multiartista Lula Martins, protagonista do filme, tenha falecido em junho deste ano, aos 80 anos, antes de ver o filme na telona restaurado e receber também suas devidas homenagens. Meteorango vive!

Reporte Error
Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar