O que era para ser apenas uma dissertação de mestrado sobre a vida de um clérigo católico que atuou na Baixada Santista durante o período da Ditadura Militar (1964-1985), tornando-se alvo da máquina de repressão do regime, acabou por virar um livro, agora com a acesso a todos os leitores que se interessam pelo tema.
“O Bispado de D. Davi Picão na Mira da Ditadura Militar”, do historiador Gines Salas, que é mestre em História pela Unifesp, retrata os momentos de perseguição ao bispo Dom Davi Picão, titular da diocese de Santos entre os anos de 1966 e 2000. Marcado como “perigoso” pelos generais que governavam o Brasil com mãos de ferro, tanto quando seu colega Dom Hélder Câmara, à frente da diocese de Olinda e Recife, o homem nascido em São João da Boa Vista, no interior paulista, conviveu por anos com a pecha de “subversivo”, o que lhe rendeu um prontuário robusto no DOPS de Santos, com mais de 400 páginas recheadas de um monitoramento implacável e bem de perto.
A obra também apresenta outros personagens, como o santista monsenhor Manoel Pestana, diretor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Santos. Líder de um grupo de padres que se opunham ao bispo, os documentos produzidos pela repressão apontam Pestana como um delator e entusiasta do regime. A sua militância foi reconhecida em 1972, ao ser laureado com a Medalha do Pacificador. Ao final da década, foi nomeado bispo de Anápolis por João Paulo II, convertendo-se em um dos bispos mais conservadores do país.
No livro de Gines Salas é possível encontrar a ainda informações mais aprofundadas sobre a prisão dos padres operários franceses e a atuação de movimentos sociais ligados à Igreja, como a Pastoral da Juventude, Pastoral Operária e as comunidades eclesiais de base atuantes nas periferias de São Vicente e Cubatão, na Baixada Santista.