A Unicamp vai analisar e emitir um parecer até o início de outubro sobre a proposta de concessão do título de 'doutor honoris causa' aos rappers do grupo paulistano Racionais MCs. Uma comissão especial já está analisando a proposta que surgiu na "Carta Antirracista" elaborada no ano passado por estudantes e professores da disciplina "Tópicos Especiais em Antropologia IV: Racionais MC’s no Pensamento Social Brasileiro".
Após a deliberação do grupo, a proposta deverá ser analisada pelo Conselho Universitário (Consu), órgão máximo de deliberação composto por docentes, técnicos-administrativos e representantes dos estudantes.
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Caso venha a receber o prêmio, os Racionais MCs vão furar uma bolha de personalidades e intelectuais brancos, entre eles os professores Paulo Freire e Antonio Candido, o poeta Mário Quintana, o economista Celso Furtado e o arquiteto Oscar Niemeyer.
Pelo menos 31 personalidades já receberam a honraria da universidade estadual. O "doutor honoris causa" é a distinção máxima prevista no estatuto da Unicamp. Dois grupos podem ser contemplados:
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- pessoas que tenham contribuído, de maneira notável, para o progresso das ciências, das letras ou das artes;
- pessoas que tenham beneficiado, de forma excepcional, a humanidade ou tenham prestado relevantes serviços à Universidade.
A comissão que vai analisar a proposta é formada pelos professores Mário Augusto Medeiros da Silva (presidente), Omar Ribeiro Thomaz, Ricardo Indig Teperman e Sueli Carneiro.
Em novembro de 2022, os Racionais MC's fizeram uma aula aberta na Unicamp. O livro "Sobrevivendo no inferno" é leitura obrigatória no vestibular da universidade estadual desde a edição 2020.
A Carta Antirracista
A "Carta Antirracista" surgiu após uma suposta ofensa racial praticada por um professor da Faculdade de Engenharia Mecânica durante aula na Unicamp em 2022.
À época em que o caso veio à tona, a Unicamp mencionou em nota acreditar que o diálogo e a multiplicação de medidas educativas são o melhor caminho para a resolução de conflitos e "necessário amadurecimento" institucional da universidade.
Outras reivindicações da Carta Antirracista
- Adoção de um percentual mínimo de produções e referenciais acadêmicos de negros, indígenas e países do sul global nos programas de disciplina e conteúdos formativos oferecidos pela universidade, reconhecendo as contribuições científicas e tecnológicas desses povos e regiões que foram subjugados pelo ocidente, mas que contribuem muito para o desenvolvimento da humanidade;
- Inclusão de produções culturais e sociais elaboradas por diferentes grupos da sociedade nos percursos formativos oferecidos pela universidade, como produção cinematográfica, musical, teatral, literária e outras expressões culturais, assim como narrativas de movimentos e coletivos que mobilizam as transformações da sociedade;
- Receber atores de saberes populares para lecionar nas disciplinas oferecidas na universidade (como curandeiras e seus saberes sobre ervas e plantas medicinais, parteiras, educadores sociais, agricultores familiares, artesãos, escritores periféricos, etc.);
- Formação dos profissionais e docentes da universidade sobre racismo institucional e violência de gênero;
- Investir e fortalecer o Projeto Memória do Movimento Negro do Arquivo Edgard Leuenroth, que já conta com arquivos das mais importantes organizações antirracistas do Brasil, e utilizar esses materiais para a formação da comunidade acadêmica em educação para as relações étnico-raciais;