No dia 27 de novembro de 2012, Zé Celso e a trupe do Teatro Oficina encenaram a "Decapitação do Papa" no Pátio da Cruz, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
A apresentação, uma adaptação da peça "Acordes" de Bertold Brecht, foi realizada a pedido dos alunos da PUC-SP como um protesto contra a nomeação da então reitora Anna Cintra. Ela não venceu a eleição, mas foi escolhida por Dom Odilo Scherer, grão-chanceler da Fundação São Paulo, instituição do Vaticano que controla a PUC.
"Os alunos e muitos professores ocuparam a Universidade devido à nomeação de uma candidata que ficou em terceiro lugar nas eleições, mas foi escolhida antidemocraticamente pelos representantes do Vaticano no Brasil por concordar em transformar a PUC em um 'Recinto de Pregação Fundamentalista Romana'", declarou Zé Celso na época.
Dom Odilo Scherer não ficou nada satisfeito com a intervenção de Zé Celso e do Teatro Oficina no Pátio da Cruz da PUC-SP e denunciou todos à polícia por "difamação de pessoa pública", no caso, o Papa.
Confira abaixo a "decapitação" do Papa:
Morre Zé Celso aos 86 anos de idade
O dramaturgo e fundador do Teatro Oficina Uzyna Uzona, Zé Celso, morreu nesta quinta-feira (5) aos 86 anos após ter 54% do seu corpo queimado durante incêndio em seu apartamento.
O teatro orgiástico de Zé Celso
A história de Zé Celso no teatro brasileiro começa na década de 1960 quando ele lidera o grupo "Teatro Oficina Uzyna Uzona" no âmbito do Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito da Universidade São Paulo (USP).
Nessa época algumas peças causaram alvoroço: Pequenos Burgueses (1963), O Rei da Vela (1967) e Na Selva das Cidades (1969).
Na ditadura, Zé Celso foi exilado e se estabeleceu em Portugal com a ajuda do educador Paulo Freire.
Quando Zé Celso retorna ao Brasil, não reassume de pronto o comando do Oficina, isso voltaria acontecer em 1993, quando eles passam a ocupar emblemático prédio da Rua Jaceguai, no centro da capital paulista, que foi desenhado por Lina Bo Bardi, arquiteta lendária do Brasil.
Com a ocupação do prédio arquitetado por Lina Bo Bardi, Zé Celso retoma a liderança do Teatro Oficina Uzyna Uzona e põe em prática o chamado "teatro orgiástico/teatro rua", ou seja, um método que visa estender o palco até as ruas de São Paulo, o que de fato acontecia em algumas peças.
Algumas peças dessa fase foram aclamadas pela crítica: Os Sertões (2002), As Bacantes (2006) e O Banquete (2009).
A tragédia
Na manhã desta terça-feira (4), o apartamento do dramaturgo e diretor do Teatro Oficina Uzyna Uzona foi atingido por um incêndio no bairro do Paraíso, em São Paulo. Zé Celso sofreu queimaduras e precisou ser internado no Hospital das Clínicas.
“Ele fez uma cirurgia e está indo para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Precisou ser intubado. Apesar da situação grave, fomos informados que ele está estável, mas não sabemos detalhes”, informou Beatriz Corrêa, sobrinha de Zé Celso, à Folha.
Marcelo Drummond, marido de Zé Celso, não sofreu queimaduras, mas também foi levado ao hospital e está em observação. Ele inalou monóxido de carboo. O casal vive em apartamentos diferentes no mesmo prédio.
Além deles, também ficaram feridos no incêndio os atores Victor Rosa e Ricardo Bittencourt. Bittencourt contou à imprensa que não se queimou e que acordou com as labaredas mas demorou alguns instantes para entender o que realmente estava acontecendo. “Foi um horror”, disse. Assim como Drummond, ele teria inalado monóxido de carbono.
Já Victor Rosa também acabou se queimando enquanto tentava salvar o Zé Celso. De acordo com o Corpo de Bombeiros, a principal hipótese para a causa do incêndio é uma pane no aquecedor do apartamento.
Zé Celso e Drummond se casaram no último dia 6 de junho em cerimônia no Teatro Oficina, onde o dramaturgo construiu sua importante carreira. Com shows de Daniela Mercury e Marina Lima, a festa teve a presença de uma série de personalidades do teatro e artistas de outras áreas. Zé Celso, que dias antes teve uma crise de diverticulite, casou sobre uma cadeira de rodas.