A breve apresentação conjunta de Gilberto Gil e de Margareth Menezes, o primeiro que foi ministro da Cultura do governo Lula de 2003 a 2006, e a segunda que ocupa atualmente a pasta, na terceira noite do carnaval de Salvador, na Bahia, cantando juntos a mítica “Expresso 2222”, que o compositor baiano lançou em 1972, foi uma espécie de ápice da retomada do Brasil das mãos de seus sequestradores obtusos, obscurantistas, antipovo e que com muito empenho tentaram apagar a verdadeira raiz do país.
Duas figuras de dimensão artística incontestável, negros, baianos e que representam em muito a cultura e a música do Brasil, e que chefiaram politicamente as diretrizes institucionais de nosso patrimônio cultural, em cima de um palco na capital mais negra da nação, pouco tempo depois do terror que o país enfrentou nas mãos de malfeitores inescrupulosos, é uma lufada de esperança e um brinde à vitória das urnas que recolocou o país nos trilhos da democracia.
Para quem viu à frente da Secretaria Nacional de Cultura, órgão instituído após a aniquilação do ministério, um sujeito que fez cosplay do chefe da propaganda nazista e outro que posava de fuzil na mão toda semana, despejando um caminhão de xingamentos aos artistas, ter Gil e Margareth num carnaval de Salvador cantando alegremente a reconquista de nossa verdadeira identidade era quase um sonho.
“A gente não vai falar muito, não, porque tem muita música e hoje a gente vai descer a madeira”, brincou a ministra, para delírio do público. O clima no público e na repercussão que a dupla teve nas redes sociais era de exorcismo do bolsonarismo.
A única parte triste foi que durou pouco. A apresentação foi no chamado “Camarote Expresso 2222”, de Gil, que fez apenas uma pequena participação, cantando quatro músicas. Depois, coube a Margareth, ministra de Estado, seguir com espetáculo até o fim.
Veja um trecho do show: