Mafalda, a garotinha desenhada pelo eterno Quino, cativou o mundo com suas preocupações e questionamentos, fez sua primeira aparição em uma tirinha no dia 29 de setembro de 1964. Desde então, suas dúvidas, personalidade marcante, círculo de amigos, vida familiar e questionamentos profundos foram traduzidos para mais de 30 idiomas diferentes, incluindo o português.
Através de suas histórias, Mafalda convida a sociedade a refletir sobre as questões mais prementes do mundo, muitas vezes desafiando percepções, status quo e crenças toleradas pelo senso comum. Não é à toa que Mafalda é utilizada como exemplo de questões de vestibulares e tem forte função educativa.
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Um ponto a se destacar para além do ato questionador das coisas, é seu claro e necessário posicionamento político. Questões como violência política, conflitos geracionais, direitos humanos, neoliberalismo, guerra fria e democracia são colocadas por Quino nas famosas tirinhas, promovendo diferentes reflexões, desde a época em que foi criada pelo cartunista até os dias atuais.
“Como [o quadrinho] foi escrito durante os anos de 1964 a 1973, teve como cenário político mundial a Guerra Fria, o imperialismo, os movimentos de contracultura e a Guerra do Vietnã”, pontua em entrevista a um blog a pesquisadora da personagem, Ana Paula Daniel.
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Em um cenário demarcado pela ditadura argentina, Mafalda, inicialmente desenhada em 1962 como personagem de um comercial de eletrodomésticos, acabou se transformando em um ícone da Argentina e de um espírito de inconformismo com o sistema opressor na America Latina.
Guerra Fria
Nesta tirinha, aspectos ideológicos são colocados por Mafalda, particularmente o comunismo e o capitalismo, durante o período em que ocorria a Guerra Fria. A personagem reflete sobre os países que buscavam uma posição neutra, com um foco especial nos países da América Latina. A influência dos Estados Unidos é simbolizada pelo personagem Manolito, filho de comerciantes, representando a transposição do capitalismo e do consumismo na sociedade.
Autoritarismo
Quando o outro personagem, Felipe, lê para ela no dicionário que a 'sopa não é um palavrão nem uma porcaria repugnante', a reação de Mafalda de jogar o dicionário no lixo simboliza sua indagação com o sistema autoritário, refletindo a tendência de Mafalda de questionar as normas estabelecidas.
Outros exemplos também ilustram questionamentos ao autoritarismo de Estado:
Direitos Humanos
Quino frequentemente utilizava o contraste de ideias para revelar a personalidade e os valores de seus personagens. Um exemplo notável disso é quando Manolito menciona “valores”. Enquanto Manolito pode estar se referindo a valores monetários ou comerciais, Mafalda imediatamente pensa em valores morais, espirituais, artísticos e humanos.
Além disso, na tirinha é posto em xeque os valores que a sociedade “desconsidera” importantes e que, na verdade, constituem a base fundamental da formação humana e da democracia.
Crítica ao consumismo e aos governos
Em claro movimento de expansão do consumismo capitalista no Ocidente no século XX, Mafalda foi um contraponto reflexivo. Assistindo televisão, rádio e outros meios de comunicação pertencentes a seu tempo, ela via espalhar um discurso que se tornaria dominante e inevitável na sociedade. Na tirinha abaixo, ela deixa um questionamento sobre o exercício das funções dos governos.