No começo do mês, o Senado Federal concedeu ao forró o status de manifestação cultural nacional. O projeto de lei, proposto pelo deputado Zé Neto (PT-BA), recebeu aprovação do Senado após já ter sido aprovado pela Câmara dos Deputados. Ele segue agora segue para sanção do presidente Lula.
Caso o texto seja aprovado, a expressão artística, que se tornou um ícone do Nordeste, se unirá a outras manifestações culturais já reconhecidas pela legislação brasileira como autênticas expressões da cultura do país. Isso inclui as escolas de samba, as festas juninas e a música gospel.
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"Essa conquista do forró como manifestação cultural brasileira vai além do ponto de vista simbólico como valorização da cultura nordestina. Ela também aponta para a direção de políticas públicas de fomento e valorização que vão preservar esse patrimônio que está no coração, na alma do povo brasileiro", afirma o professor Estevam Machado, um especialista na história colonial do Brasil, entrevistado pelo g1.
A aprovação da lei poderia beneficiar os setores que promovem a música, pois eles poderiam receber recursos da Lei Rouanet, por exemplo. Na argumentação para a apresentação do projeto, Zé Neto declarou que o forró serve como um meio de “difundir a alegria da cultura do Nordeste para todo o Brasil”.
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O forró é hoje "um dos mais autênticos gêneros musicais brasileiros. Nascido a partir da mistura de ritmos tradicionais da Região Nordeste como baião, xaxado, coco, arrasta-pé e xote, existe e resiste há cerca de sete décadas", destacou o deputado.
Manifestação cultural nacional x Patrimônio Cultural Imaterial
Já reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial brasileiro pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o projeto de lei busca o reconhecimento do gênero musical como expressão autêntica e original do Brasil e, para isso, depende da aprovação de uma lei no Congresso e do aval do presidente da República.
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) o patrimônio imaterial é definido como: "as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas – com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados – que as comunidades, os grupos e, em alguns casos os indivíduos, reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural."
Forró: origens e transformações
Segundo Estevam Machado, um especialista na história colonial do Brasil, a palavra forró é derivada de forrobodó. Esta, por sua vez, vem de “forbodó”, que é uma adaptação para o português de uma palavra francesa: faux-bourdon. Faux-bourdon era um tipo de música tocada na Idade Média.
No Brasil, o ritmo que originou o forró foi introduzido no século XIX pelos portugueses e se estabeleceu principalmente nas regiões interioranas do país, sobretudo no interior do Nordeste. Luiz Gonzaga, popularmente conhecido como Gonzagão, o rei do baião, foi um dos pioneiros na popularização do forró nos anos 1940, juntamente com Carmélia Alves. Inicialmente, era uma expressão artística do mundo rural sertanejo.
A música geralmente era executada com apenas três instrumentos e suas letras abordavam temas nostálgicos e regionais, com um marcante sotaque do interior. De acordo com Machado, "só na década de 50 que o nome forró passa a ser utilizado para o ritmo musical e a gente deve muito isso à figura do Luiz Gonzaga, com a música 'Forró de Mané Vito', que realmente criou esse gênero que é tão importante para a cultura nordestina".
As transformações significativas tiveram início em 1975, quando artistas populares moldaram o gênero musical para se adequar ao período e ao seu estilo de tocar. Marcava o começo do forró universitário, com um apelo direcionado ao público jovem e citadino. Este novo estilo foi difundido por Elba Ramalho, Zé Ramalho, Alceu Valença e Geraldo Azevedo.
‘Oxente music’
A década de 1990 marcou a maior transformação do gênero. Com a introdução de novos instrumentos, dançarinas, linguagens musicais e elementos de outros ritmos, surgiu uma nova vertente: o forró eletrônico, também conhecido como forró estilizado ou “oxente music”.