A Litprom, associação literária alemã, premiou a escritora palestina Adania Shibli por seu romance Detalhe Menor. Quer dizer, anunciou a premiação, que seria agora na Feira de Frankfurt, com uma homenagem à autora, mas o evento foi cancelado.
Segundo a LitProm, a homenagem foi cancelada "devido à guerra". O objetivo era celebrar o romance pela "conquista do LiBeraturpreis 2023, um prêmio de literatura alemã atribuído anualmente a um autor de África, Ásia, América Latina ou do mundo árabe e apresentado na Feira do Livro de Frankfurt, um dos maiores encontros da indústria editorial global".
O romance "conta a história real do estupro e assassinato de uma menina beduína palestina em 1949 por soldados israelenses, segundo sua editora alemã, Berenberg Verlag".
A Litpron, segundo o New York Times, de onde coletei as aspas anteriores, divulgou um primeiro comunicado afirmando que o cancelamento foi feito de acordo com a autora. Em seguida voltou atrás e assumiu que a decisão foi apenas sua.
Mas a Feira de Frankfurt mostra que tem lado. Se a homenagem à autora palestina foi cancelada, eventos em apoio a Israel estão confirmados e o diretor da Feira do Livro de Frankfurt, Juergen Boos, afirmou que está em "total solidariedade ao lado de Israel" e que a feira quer "tornar as vozes judaicas e israelenses particularmente visíveis".
Para isso, a autora e ativista da paz Lizzie Doron, que vive em Tel Aviv e Berlim, falará sobre os eventos atuais em Israel durante o evento em 21 de outubro. Haverá também "momentos adicionais no palco para vozes israelenses", como o evento "Out of Concern for Israel". [DW]
A autora não se manifestou sobre o cancelamento nem sobre o incremento de ações em apoio a Israel na Feira.
Mas numa entrevista à escritora Mireille Juchau mês passado, Adania Shibli deu a seguinte declaração sobre a questão palestina:
Minha busca no caso da Palestina não é me preocupar com quem se preocupa com posicionamento, mas com quem está sofrendo. Só temos uns aos outros nesses casos, pois os privilegiados nunca arriscarão o seu privilégio em favor de outros se o conseguirem. Não estou sendo cruel, espero, mas realista. Até as cabras sabem quando outra cabra é levada para o abate, os humanos não conseguem fazer isso? E se não o fizerem, então tenho o direito de confiar apenas em cabras e de falar apenas com cabras sobre tudo isso, a Palestina e tudo o mais.
Enquanto a mídia mundial, governos ocidentais e até uma feira literária apoiarem Israel, por mais que sua ação seja criminosa, não haverá solução de paz na região.
Por que criticam apenas o Hamas e não Israel? Por que cancelam a homenagem a uma autora palestina e promovem outras à cultura israelense?
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