O prefeito de São José dos Campos (SP), Anderson Farias (PSD), determinou nesta segunda-feira (19) que a Afac (Associação para o Fomento da Arte e da Cultura), entidade responsável pela gestão do Parque Vicentina Aranha, onde ocorreu o Flim no último sábado (Festival Literomusical da cidade), preste esclarecimentos e tome providências para a suspensão do pagamento do cachê da cantora Maria Gadú.
De acordo com a prefeitura e com políticos de extrema direita como o vereador paulistano Fernando Holiday (Novo) que entrou com ação na Justiça Federal no último domingo, Gadú teria feito um “showmício” a favor do ex-presidente Luiz Inácio Lula as Silva (PT) em evento que teria sido organizado com dinheiro público. “Reforço que houve desvio da finalidade cultural por parte da cantora e sua equipe no show realizado no Parque Vicentina Aranha”, disse o prefeito em nota oficial.
A preferência política de Maria Gadú e sua indignação, como artista e cidadã, com a destruição do Brasil nos últimos quatro anos é de conhecimento público. Ela é uma artista bastante ativa nas redes sociais nesse sentido e já deu declarações e opiniões políticas em outras ocasiões. No último sábado, a cantora fez o “L” do Lula após executar uma das suas músicas e em seguida fez um breve discurso.
“Faltam alguns dias, são dias difíceis. Protejam o coração de vocês e a cabeça, porque vamos precisar de todo mundo forte e em pé para enfrentar esse fascismo. Não esqueçam que também vamos precisar de uma Câmara e um Senado bem eleitos. Porque é ali que nascem esses projetos contra a população e favor de madeireiros que destroem a floresta. Então, precisamos dos nossos lá, para fazerem projetos a favor da população, da floresta e barrando esse elenco louco”, disse a cantora tirando aplausos da plateia.
Assim que terminou o discurso, uma toalha com o rosto do ex-presidente Lula foi atirada no palco e Maria Gadú, ao pegá-la, disse: “Jogaram a cara do gatinho aqui, vou mostrar pra vocês”, e novamente o público foi ao delírio. Além disso, músicos da banda de Maria Gadú também seguraram cartazes em alusão à luta pelo estabelecimento do bairro Banhado, uma comunidade do centro de São José dos Campos (SP) que luta para ser regularizada e vem sofrendo com ações de despejo por parte da prefeitura.
Mas não foi apenas show de Maria Gadú a trazer o tom político para o festival que busca aliar música e literatura brasileira contemporâneas, e conta com, além de shows, palestras e lançamentos de livros. Em palestra anterior, o músico Arnaldo Antunes chamou os últimos quatro anos de “período tenebroso e obscuro”. Além dele, outras apresentações também despertaram o antibolsonarismo do público. No entanto, parece que apenas a Maria Gadú incomodou.
“Momento tenebroso da história que é esse governo. Ameaça o meio ambiente, a biodiversidade, a cultura e a educação, é um período muito obscuro e regressivo. A defesa dos territórios indígenas e a preservação das suas culturas é muito urgente. É também uma defesa não só deles, mas da humanidade, porque eles não só preservam a floresta e os rios, mas têm muito a ensinar para nós. E a primeira coisa desse aprendizado passa pelo fato de não vermos a natureza como algo separado da gente mas como sendo parte dela”, declarou Antunes.
Sobre a suspensão do cachê, é bem possível que as coisas encaminhem nesse sentido. Logo no dia seguinte ao evento – ou seja, antes da nota da prefeitura, e antes de se ventilar a possibilidade não pagamento de cachê - a Afac concordou que tenha havido manifestações de cunho político durante o festival e disse não compactuar com tal conduta. Todavia não se manifestou sobre o não pagamento do cachê.
O diretor-executivo da Afac, Aldo Zonzini, no entanto, afirmou que dos cerca R$ 300 mil utilizados para a realização do festival, apenas 10% vieram de investimentos públicos. O restante teria vindo de parcerias com a iniciativa privada e captação direta da organização do evento.
*Com informações do jornal OVALE, da cidade de São José dos Campos (SP).