Pelo menos dois escritores anunciaram, nesta sexta-feira (1), que se recusam a receber a medalha de Ordem do Mérito do Livro, concedida pela Biblioteca Nacional, porque o deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), apoiador de Jair Bolsonaro (PL), também é um dos contemplados com a homenagem.
Marco Lucchesi e Antônio Carlos Secchin são imortais da Academia Brasileira de Letras (ABL).
A assessoria de Silveira confirmou que ele irá à premiação, nesta sexta, no Auditório Machado de Assis, no Centro do Rio de Janeiro.
Lucchesi gravou um vídeo para justificar seu posicionamento e ainda reforçou pelo Twitter:
“Convidado a receber a medalha da Biblioteca Nacional, e estando longe do país, acabo de saber que a mesma medalha será destinada, dentre outros, ao presidente da república e a alguns de seus mais fiéis seguidores. Por isso mesmo, não tenho condições de recebê-la”, escreveu.
“Se eu aceitasse a medalha seria referendar Bolsonaro, que disse preferir um clube ou estande de tiro a uma biblioteca. Agradeço, mas não posso aceitar”, acrescentou.
Antônio Secchin, por sua vez, confirmou a recusa ao jornalista Ancelmo Gois, em O Globo. “Pelo que soube há pouco a cerimônia vespertina se constituirá na celebração de uma única diretriz política, agraciando pessoas sem relação com livros, biblioteca e cultura. Não me sentiria bem vendo compartilhada a Medalha do Mérito do Livro a personalidades que provavelmente não veem no livro mérito nenhum”, completou.
A medalha já foi entregue a alguns dos principais escritores brasileiros, como Gilberto Freyre e Carlos Drummond de Andrade.
Silveira é uma das figuras mais emblemáticas do radicalismo irracional do bolsonarismo
A Biblioteca Nacional do Brasil, sediada num imponente edifício do centro histórico do Rio de Janeiro, fundada em 1810, no Império, dará sua mais importante medalha, a Ordem do Mérito do Livro, ao PM-deputado federal de extrema direita Daniel Silveira. O parlamentar é uma das figuras mais emblemáticas do radicalismo exacerbado e irracional do bolsonarismo no Brasil, que inclusive ameaçou agredir ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que o condenaram a 8 anos e 9 meses de prisão por sua conduta selvagem.
Na plateia, para ver o irascível e violento parlamentar que foi eleito por destruir a placa em homenagem à vereadora assassinada Marielle Franco, estarão o ex-secretário nacional de Cultura, Mario Frias, que durante sua “gestão” passou a maior parte do tempo defendendo o lobby das armas, a primeira-dama Michelle Bolsonaro, que raramente vai a eventos que não sejam de natureza evangélica radical, e, possivelmente, o presidente Jair Bolsonaro, que em 2020 disse que “os livros hoje em dia, como regra, é um amontoado, têm muita coisa escrita, tem que suavizar aquilo”.