VINICIUS DE MORAES

Pedro de Moraes, filho de Vinícius de Moraes, morre no Rio aos 79 anos

Morte do fotógrafo foi confirmada por sua filha, a cantora Mariana de Moraes; relembre aqui poema feito a ele por Vinícius

Pedro de Moraes com a câmera.Créditos: Redes Sociais
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O fotógrafo Pedro de Moraes, filho do poeta Vinicius de Moraes, morreu nesta sexta-feira (27), na Casa de Saúde São José no Rio de Janeiro (RJ), onde estava internado, após ter complicações por uma bactéria que contraiu.

Uma das suas filhas, a cantora Mariana de Moraes, confirmou a morte do pai em suas redes sociais. "Meu pai morreu agora as 13:40 no dia do aniversário de minha mãe. Fotógrafo genial. Ser humano ímpar. Muito amado. Chegou quase aos 80 quase. Descansou", disse ela.

Filho do poeta Vinicius de Moraes com a jornalista Tati de Moraes, Pedro começou a carreira na revista Manchete e teve fotos expostas no Brasil e no exterior.

Velório e enterro

Mariana confirmou que o velório do fotógrafo acontecerá neste sábado (28), no museu histórico da cidade no parque da cidade na Gávea as 9 horas da manhã até às 15 horas.

O enterro será feito no jazigo da família Moraes às 16h horas no Cemitério São João Batista, no Rio.

Pedro, meu filho...

Vinícius de Moraes escreveu o poema em forma de carta "Pedro, meu filho", para seu único filho homem, publicado no livro "Para viver um grande amor". Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1962. Ouça abaixo o poeta declamando o texto e logo a seguir o poema completo:

Pedro, meu filho… (Vinícius de Moraes)

Como eu nunca lutei para deixar-te nada além do amanhã indispensável: um quintal de terra verde onde corra, quem sabe, um córrego pensativo; e nessa terra, um teto simples onde possas ocultar a terrível herança que te deixou teu pai — a insensatez de um co­ração constantemente apaixonado.

E porque te fiz com o meu sêmen homem entre os homens, e te quisera para sempre escravo do dever de zelar por esse alqueire, não porque seja meu, mas porque foi plantado com os frutos da minha mais dolorosa poesia.

Da mesma forma que eu, muitas noites, me debrucei sobre o teu berço e verti sobre teu pequenino corpo adormecido as minhas mais indefesas lágrimas de amor, e pedi a todas as divindades que cravassem na minha carne as farpas feitas para a tua.

E porque vivemos tanto tempo juntos e tanto tempo separados, e o que o convívio criou nunca a ausência pôde destruir.

Assim como eu creio em ti porque nasceste do amor e cresceste no âmago de mim como uma árvore dentro de outra, e te alimentaste de minhas vísceras, e ao te fazeres homem rompeste meu alburno e estiraste os braços para um futuro em que acreditei acima de tudo.

E sendo que reconheço nos teus pés os pés do menino que eu fui um dia, em frente ao mar; e na aspereza de tuas plantas as grandes pedras que grimpei e os altos troncos que subi; em tuas palmas as queimaduras do Infinito que procurei como um louco tocar.

Porque tua barba vem da minha barba, e o teu sexo do meu sexo, e há em ti a semente da morte criada por minha vida.

E minha vida, mais que ser um templo, é uma caverna interminável, em cujo recesso esconde-se um tesouro que me foi legado por meu pai, mas cujo esconderijo eu nunca encontrei, e cuja descoberta ora te peço.

Como as amplas estradas da mocidade se transformaram nestas estreitas veredas da madureza, e o Sol que se põe atrás de mim alonga a minha sombra como uma seta em direção ao tenebroso Norte.

E a Morte me espera em algum lugar oculta, e eu não quero ter medo de ir ao seu inesperado encontro.

Por isso que eu chorei tantas lágrimas para que não precisasse chorar, sem saber que criava um mar de pranto em cujos vórtices te haverias também de perder.

E amordacei minha boca para que não gritasses e ceguei meus olhos para que não visses; e quanto mais amordaçado, mais gritavas; e quanto mais cego, mais vias.

Porque a poesia foi para mim uma mulher cruel em cujos braços me abandonei sem remissão, sem sequer pedir perdão a todas as mulheres que por ela abandonei.

E assim como sei que toda a minha vida foi uma luta para que ninguém tivesse mais que lutar:

Assim é o canto que te quero cantar, Pedro meu filho…