Guia-manifesto para a organização coletiva e mobilização em rede, Como derrotar o fascismo em eleições e sempre (Veneta/Hedra, 2022) se apresenta como “chamamento e proposta de organização da luta contra a nova forma de fascismo que emergiu em tempos recentes e vem destruindo o país”, explicam os autores, o jornalista Renato Rovai, da Revista Fórum, e o sociólogo Sérgio Amadeu (UFABC), principal referência em inclusão digital e software livre no nosso país.
Destinado a todas as pessoas que desejam atuar na luta antifascista, mas que esbarram, “com frequência, na gritaria inócua das redes sociais e na desmobilização geral do campo progressista”, o livro será lançado nesta quarta-feira, 18 de maio (às 18h30), na Galeria Metrópole (piso 2, loja 1).
Dividido em três partes e visualmente organizado como um manual prático, ele traz conceitos básicos sobre o ambiente digital e várias propostas concretas de ação em rede.
Na primeira parte, O que é o fascismo, os autores trabalham, brevemente, os fundamentos e as estratégias do fascismo, ajudando os leitores a identificar essas práticas no Brasil e no mundo. A linguagem é jornalística e eles problematizam, inclusive, as relações entre neofascismo e a questão racial, fascismo digital e neoliberalismo tardio, bolsonarismo e estratégias de expansão da extrema-direita.
Concentradas em ambientes virtuais, essas estratégias buscam dificultar o debate racional, conferindo novas roupagens a valores reacionários, e disseminar a desinformação e o caos cognitivo. “A irracionalidade, de fato, parece ser um traço fundamental do fascismo. Essa irracionalidade é entendida como uma incoerência articulada que aponta em um sentido retrógrado e violento, mas sempre orientada à expansão e manutenção do poder” (p.11), avaliam.
Na segunda parte, Campo de batalha, eles trabalham a lógica e o funcionamento das plataformas digitais. São problematizadas questões como a escalada do capitalismo de vigilância, a captura da nossa atenção, a venda dos nossos dados. “O objetivo das plataformas é conduzir nossos comportamentos e modular nossa percepção para obter ganho econômico. O esforço maior da comunicação em rede não é expor conteúdo, mas obter atenção: o difícil não é falar, mas ser ouvido” (p.36).
Eles também analisam a questão do controle dos algoritmos, apontando que “ao controlar a distribuição de conteúdo, definir o que cada usuário verá e modular sua atenção, os algoritmos que operam as redes sociais interferem na formação da opinião pública” (p.39).
Como derrotar o fascismo traz, ainda, um histórico sobre o impacto das redes nas campanhas eleitorais desde 2004 e, em particular, nas eleições de 2018 no Brasil. Para os autores, “o que parece ter sido a grande diferença da eleição de 2018 foi que Bolsonaro se preparou para a disputa transformando o que costuma ser parte do jogo subterrâneo no seu principal território eleitoral. Ele profissionalizou como nunca o jogo sujo e contou com empresários que de forma ilegal contrataram empresas para operar esse esquema” (p.54).
Por fim, na terceira e última parte, intitulada Como você pode atuar para derrotar o fascismo, são apresentados propostas e métodos de ações em rede. Como organizar um coletivo antifascista com nossos amigos? Como estabelecer objetivos estratégicos, metas, modos de atuação? Como lidar com bolhas, monetização, milícias digitais? Como produzir conteúdo para o Facebook, YouTube, Twitter, Instagram, WhatsApp?
Essas e tantas outras questões se alternam com dicas elementares e informações de quem pensa a rede de forma sistêmica. Por exemplo, a dica de que a maior parte dos consumidores de planos pré-pagos não clica em links externos, porque há custo nisso. Para travar o debate nesses ambientes, é preciso inserir conteúdos diretamente neles, explicam os autores.
Eles também trazem várias técnicas como a de criar personas para modular a comunicação com o público que se pretende dialogar; a de elaborar listas de argumentos como preparação prévia; ou mesmo dicas de adequação do conteúdo às redes sociais...
Um livro tanto para quem pretende contribuir coletivamente na luta antifascista, quanto para quem precisa qualificar a própria ação em rede. O importante, apontam os autores, é não se abster.
Afinal, “Convencer as pessoas é a parte mais decisiva e difícil de uma campanha. Alguns privilegiados têm talento natural para a função, mas a maioria de nós, reles mortais, esbarra nos mesmos obstáculos: timidez, impaciência, dificuldade de argumentação e outras incertezas sobre qual melhor abordagem. Isso não pode ser motivo para evitar o chamado corpo a corpo – é perfeitamente possível exercer um papel relevante de convencimento com estratégias simples” (p.78).
Clique aqui para adquirir Como derrotar o fascismo em eleições e sempre, de Sergio Amadeu e Renato Rovai (Veneta/Hedra, 2022).
*Tatiana Carlotti é jornalista, mestre e doutora em Literatura Contemporânea.
**Artigo publicado originalmente no Fórum 21.