“Que horas ela volta?”, da diretora Anna Muylaert, um dos melhores e mais significativos filmes brasileiros de todos os tempos, chega finalmente à plataforma por demanda Netflix. Lançado em 2015, pouco antes do golpe sobre a presidente Dilma Rousseff, o filme tem o poder de captar um momento significativo da nossa história recente, em que uma certa sensação de mobilidade social começava a rondar os pesadelos da elite brasileira.
O filme tem como personagem principal a simpática Val, um dos maiores papéis da vida da atriz e apresentadora Regina Casé. Ela é a empregada doméstica que trabalha para uma família rica no bairro do Morumbi, na cidade de São Paulo.
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Tudo segue na mais absoluta normalidade até chegar à São Paulo sua filha Jéssica, em outra excelente interpretação da então iniciante Camila Márdila. Ela chega para prestar vestibular para Arquitetura, um dos cursos mais disputados, segundo desdenha a chefe da casa.
A virada
Jéssica vira a família e a vida de Val do avesso. É ela quem chega para mudar tudo, estabelecer um outro parâmetro e abrir a perspectiva de mobilidade social. A partir da entrada de seu personagem, os lugares sociais pré-estabelecidos se tornam passiveis de mudança.
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Para completar a história, o filho da família, o menino Fabinho (Michel Joelsas) também vai fazer o mesmo vestibular e, portanto, disputar a vaga com Jéssica, a filha da empregada. Como se não bastasse isso tudo, a menina ainda sofre assédio do pai da família, uma espécie de fantasma da casa interpretado de maneira magnífica pelo escritor, ator e dramaturgo Lourenço Mutarelli.
Mais do que isso e este texto vira spoiler. O fato principal é que, de uma simples e até certo ponto óbvia narrativa, Muylaert consegue transformar seu filme em uma obra-prima em que tudo funciona, desde o trabalho dos atores, cenografia, direção de arte e roteiro.
“Que horas ela volta?” talvez seja a mais completa tradução dos sonhos dos anos Lula e Dilma no Brasil.