SAMBA

Martinho da Vila diz que só cantou uma vez letra "machista" que fez

Ao comentar decisão de Chico Buarque sobre "Com Açúcar, Com Afeto", Martinho falou de música composta em 1975 para novela da Globo: "As mulheres não gostaram. Depois, não cantei mais".

Martinho da Vila e Chico Buarque quando visitaram Lula na prisão em Curitiba.Créditos: Reprodução/Youtube
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Aos 84 anos, completados neste sábado (12), Martinho da Vila comentou sobre a decisão de Chico Buarque de não cantar mais "Com Açúcar, com Afeto" por considerar machista a letra, composta em 1967 para ser interpretada por Nara Leão.

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Em entrevista ao jornal O Globo, Martinho contou que só interpretou apenas uma vez a música "Você Não Passa de Uma Mulher", composta em 1975 para uma novela da Globo.

"Cantei essa música só quando lancei o disco (em 1975). Foi grande sucesso, tema de novela. Eu não queria cantar, mas as pessoas pediam. Vou explicar o que aconteceu. Há músicas que eu faço e fico insatisfeito com uma palavra. Estava procurando uma frase para a letra, mas o (produtor) Rildo Hora já tinha feito as bases (do arranjo). Ele falou: “Grava assim mesmo e, quando achar a palavra, vem no estúdio e troca.” Aí eu gravei cantando “você não passa de uma mulher”. Todo mundo achou maravilhoso, a gravadora gostou e eu me ferrei. As mulheres não gostaram. Depois, não cantei mais", afirmou.

No entanto, o sambista afirma que "para o escritor, o letrista, o poeta, as palavras podem ter outro sentido". "Para mim, era como se a mulher fosse o máximo: dali não passa. Mas foi entendido de outra forma", disse.

Indagado sobre críticas aos versos de Disritmia - "Vem logo, vem curar seu nego/ que chegou de porre lá da boemia" -, o compositor disse que "há quem não goste. Algumas gostam, outras não".

"Corretores zoológicos" e "movimento" em Vila Isabel

O sambista ainda falou sobre sua relação na Vila Isabel, escola de samba que há duas semanas teve seu ex-presidente, Bernardo Bello, preso sob suspeita de ter mandado assassinar o bicheiro Alcebíades Paes Garcia, o Bid.

"Na escola de samba, você participa ou não. Eu, que sempre estive à frente, que sou presidente de honra da Vila, lidei com os corretores zoológicos (bicheiros), com o pessoal do morro, do movimento (tráfico de drogas). Eles (os homens envolvidos com o tráfico) saem na bateria, tem que negociar com eles. Houve um período em que eu falei: 'Pessoal, vocês podiam fazer o seguinte: não deixar assaltar na porta da escola, não mexer nos carros'. 'Deixa comigo, Martinho da Vila!' Na escola de samba desfila todo mundo, junto e misturado. Na mesma ala tem empregada, patroa, polícia, chefão... Para quem está na escola, não tem jeito", contou.