Aos 84 anos, completados neste sábado (12), Martinho da Vila comentou sobre a decisão de Chico Buarque de não cantar mais "Com Açúcar, com Afeto" por considerar machista a letra, composta em 1967 para ser interpretada por Nara Leão.
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Em entrevista ao jornal O Globo, Martinho contou que só interpretou apenas uma vez a música "Você Não Passa de Uma Mulher", composta em 1975 para uma novela da Globo.
"Cantei essa música só quando lancei o disco (em 1975). Foi grande sucesso, tema de novela. Eu não queria cantar, mas as pessoas pediam. Vou explicar o que aconteceu. Há músicas que eu faço e fico insatisfeito com uma palavra. Estava procurando uma frase para a letra, mas o (produtor) Rildo Hora já tinha feito as bases (do arranjo). Ele falou: “Grava assim mesmo e, quando achar a palavra, vem no estúdio e troca.” Aí eu gravei cantando “você não passa de uma mulher”. Todo mundo achou maravilhoso, a gravadora gostou e eu me ferrei. As mulheres não gostaram. Depois, não cantei mais", afirmou.
No entanto, o sambista afirma que "para o escritor, o letrista, o poeta, as palavras podem ter outro sentido". "Para mim, era como se a mulher fosse o máximo: dali não passa. Mas foi entendido de outra forma", disse.
Indagado sobre críticas aos versos de Disritmia - "Vem logo, vem curar seu nego/ que chegou de porre lá da boemia" -, o compositor disse que "há quem não goste. Algumas gostam, outras não".
"Corretores zoológicos" e "movimento" em Vila Isabel
O sambista ainda falou sobre sua relação na Vila Isabel, escola de samba que há duas semanas teve seu ex-presidente, Bernardo Bello, preso sob suspeita de ter mandado assassinar o bicheiro Alcebíades Paes Garcia, o Bid.
"Na escola de samba, você participa ou não. Eu, que sempre estive à frente, que sou presidente de honra da Vila, lidei com os corretores zoológicos (bicheiros), com o pessoal do morro, do movimento (tráfico de drogas). Eles (os homens envolvidos com o tráfico) saem na bateria, tem que negociar com eles. Houve um período em que eu falei: 'Pessoal, vocês podiam fazer o seguinte: não deixar assaltar na porta da escola, não mexer nos carros'. 'Deixa comigo, Martinho da Vila!' Na escola de samba desfila todo mundo, junto e misturado. Na mesma ala tem empregada, patroa, polícia, chefão... Para quem está na escola, não tem jeito", contou.