PAULINHO DA VIOLA 80 ANOS

Paulinho da Viola: os 80 anos de um gênio que construiu o futuro com a tradição

O cantor, compositor e instrumentista gravou, ao longo de mais de 50 anos de carreira, pouco mais de 20 álbuns, todos definitivos para a nossa música

Paulinho da Viola.Créditos: Divulgação
Escrito en CULTURA el

Desde o seu início de operações no Brasil, em 2014, que o Spotify me avisa que o artista mais ouvido a cada ano por mim na plataforma é o cantor, compositor e instrumentista Paulinho da Viola. Não fosse o aviso e jamais me daria conta disso.

Com a mesma discrição do artista, seus sambas, choros e canções nos acompanham por toda a parte. De todos os grandes compositores de sua geração que já chegaram ou se aproximam dos 80 anos, Paulinho é o que tem os pés mais fincados na tradição. Ao mesmo tempo, e por um paradoxo quase indefinível, é um dos maiores inovadores da nossa música.

Nascido e vivido no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro, Paulinho é filho do violonista César Faria, integrante do lendário grupo Época de Ouro, notabilizado entre outras coisas por acompanhar Jacob do Bandolim.

Cresceu com os grandes bambas do choro tocando dentro da sua casa. Foi conduzido aos palcos pelo amigo Hermínio Bello de Carvalho, no então antológico espetáculo “Rosa de Ouro”, em 1965.

A partir de então, a sua genialidade fez o resto.

Sinal Fechado

Em 1969, teve a música "Sinal Fechado", um cifrado recado à ditadura militar, classificada em um dos festivais da TV Record. Por ironia, uma canção repleta de acordes abertos que não guarda quase nenhuma relação com o samba e as obras que passou a compor a partir de então.

Paulinho da Viola gravou, ao longo de mais de 50 anos de carreira, pouco mais de 20 álbuns, um número bem reduzido se comparado com seus colegas de geração. No entanto, assim como Dorival Caymmi – que também tem uma pequena discografia – são discos definitivos. Não há como imaginar a música popular brasileira, sobretudo o samba e o choro, sem sua obra.

A música dos morros, escolas e periferias

Apesar de sempre ter vivido em um bairro classe média, tudo o que Paulinho aprendeu, ouviu e transformou, foi garimpado nos morros e nas escolas de samba, invariavelmente instaladas nas periferias.

Ouviu e regravou, além de suas próprias obras, compositores como Lupicínio Rodrigues, Wilson Batista, Nelson Cavaquinho, Cartola, Noel Rosa, Orestes Barbosa, Ismael Silva, Paulo da Portela, Valzinho e Candeia, entre outros.

Cantou e exaltou várias escolas de samba, apesar de ter sua trajetória ligada à Portela, para a qual fez “Foi um rio que passou em minha vida”, um dos sambas mais lindos do mundo.

Bebadosamba

Paulinho não grava um álbum com inéditas desde “Bebadosamba”, de 1996. Apesar de completar 80 anos neste sábado (12), o compositor não demonstra nenhuma pressa pra isso e, com ou sem nevoeiro, continua levando seu barco devagar.

Para comemorar a data, indico ao leitor o álbum “Memórias Chorando”, de 1976, que, como o nome sugere, é todo feito de choros instrumentais, tanto dele quando de autores lendários como Pixinguinha, Ary Barroso, João de Barro, Benedito Lacerda e Alberto Ribeiro.

Se notar bem de perto, pode-se perceber claramente que o futuro já estava lá, todo desenhado pelo passado.