O que há de bom e de novo mesmo em “Portas”, o novo disco de Marisa Monte lançado na noite da última quinta-feira (1º) em todas as plataformas digitais, é Chico Brown. O filho de Carlinhos Brown e neto de Chico Buarque não é só o autor de cinco das 16 canções do álbum.
Ele é o autor das melhores invenções e das melhores canções do álbum.
Chico Brown é um compositor requintado. Ele salta a léguas de distância da média dos autores novos. Suas canções, desde “Massarandupió”, a bela parceria com Chico lançada no álbum “Caravanas”, de 2017, são elaboradas com fôlego. Suas criações melódicas e harmônicas voam muito acima do lugar comum.
Ao mesmo tempo em que é antenado com o que acontece, tem um pé no que há de melhor da nossa canção. Nos remete, assim como as canções do avô, à riqueza da Bossa Nova, de Tom Jobim, João Gilberto e congêneres.
O álbum “Portas” traz um pouco do tanto que Marisa Monte fez nas últimas décadas, sobretudo desde o disco “Mais”. Não iria além disso não fosse pelas canções de Chico Brown, que são: “Calma”, “Déja Vu”, “Medo do Perigo”, “Em Qualquer Tom” e “Fazendo Cena”.
Para além delas, há boas parcerias mais uma vez com Arnaldo Antunes, Nando Reis, Dadi, Marcelo Camelo, Flor, Seu Jorge e Pretinho da Serrinha. Deste último vale destacar o belo samba com jeitão tradicional “Elegante Amanhecer”.
A gravação nos remete ao belo álbum “Tudo Azul”, da Velha Guarda da Portela, produzido pela cantora em 1999. Caberia como uma luva no repertório do disco.
Curiosamente, algumas gravações do álbum foram produzidas em parceria com o cantor e guitarrista americano Arto Lindsay, expoente da vanguarda novaiorquina. A despeito dos metais e do excelente arranjo de cordas pelo maestro Arthur Verocai que imprimem a sonoridade soul de “Calma”, suas contribuições soam bem mais comportadas do que normalmente são.
Vale destacar também o belo projeto gráfico do álbum assinado pela artista plástica Marcela Cantuária. Com ambientação tropicalista, ela reproduz diversas imagens multicoloridas da cantora perseguindo a temática das faixas.
No mais, conforme dito acima, o que vale mesmo em “Portas” é Chico Brown.