O guitarrista Jimmy Page, da lendária banda inglesa Led Zeppelin, viveu na Bahia com Jimena, sua namorada argentina, durante os anos 90. As histórias do período são contadas pelo músico e jornalista Leandro Souto Maior no livro “Jimmy Page no Brasil”, publicado através de um financiamento coletivo, em edição bilíngue, português e inglês.
Entre elas, está um fato delicado e extremamente duvidoso. O excelente e indiscutivelmente talentoso guitarrista baiano Pepeu Gomes afirma que Page teria “afinado” para ele. Durante uma canja na Casa Jimmy, local onde o guitarrista britânico mantinha um projeto social, Pepeu o teria convidado para tocar, mas ele não aceitou.
O próprio Pepeu é quem diz: “Olha, não foi um negócio muito legal não. A gente estava fazendo uma canja, ele ficou me assistindo e depois amarelou! Fiquei chateado. Rolou uma foto, mas tocar com ele não. Tem muito guitarrista que quando me vê acha que é um troço meio ameaçador”, afirmou o baiano, sem modéstia alguma.
De acordo com relatos de amigos e pessoas que circulavam pela Bahia na época, Page tinha muito interesse pela cultura, sobretudo a culinária e a música, mas não tinha vontade de tocar nem dar canjas.
De acordo com texto publicado na Folha, nas dezenas de relatos presentes no livro, é comum a decepção de fãs que o encontraram e até conseguiram um autógrafo e uma foto, mas não o viram tocar. “Ele não se sentia à vontade”, diz Souto Maior.
O fato mesmo é que Jimmy Page não teria nenhuma razão em “afinar” para Pepeu Gomes. Com todo respeito aos dois, um não deve nada ao outro nem vice versa. São dois excelentes instrumentistas, cada um no seu quadrado. Jimmy Page tem uma importância incomensurável para o rock, assim como Pepeu para a música brasileira.
Pepeu pode se sentir “ameaçador” para vários músicos, mas nunca, jamais em tempo algum, um deles seria Jimmy Page. O guitarrista britânico, além de ser um compositor fabuloso, autor de, entre outras, com o parceiro Robert Plant, “Stairway to Heaven” – a canção mais tocada do planeta na década de 70 – é um guitarrista único.
Sua digitação perfeita, capacidade de tocar pesado sem engolir notas, de maneira melódica, firme e vigorosa, encantou o mundo.
Pepeu, por sua vez, também foi um inovador. Ao lado de Armandinho Macedo, soube misturar o choro e a música baiana ao rock como ninguém. É um guitarrista tão bom, mas tão bom, que não precisaria jogar na sua biografia uma frase dessas.
Na música, ao contrário do esporte e até mesmo da luta física das ruas, becos e bares, há espaço para vários talentos extraordinários, sem que nenhum deles precise “amarelar” para ninguém.