Sérgio Camargo, presidente da Fundação Palmares, comemora “o melhor Carnaval de todos os tempos”

A frase foi comentada por especialistas da área com exclusividade para a Fórum, como o ex-ministro da Cultura Juca Ferreira, o historiador Luiz Simas e o compositor Sérgio Pererê

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
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O presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, comemorou em sua conta do Twitter, nesta quarta-feira (17), o que ele chamou ironicamente de “o melhor Carnaval de todos os tempos”.

Camargo afirmou ainda já estar “sentindo saudades” e disse torcer para que “os próximos sejam como este”.

O presidente da Fundação criada há 31 anos com o objetivo de promover a preservação dos valores culturais, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira disse ainda apreciar “a paz e a tranquilidade, ruas sem montanhas de lixo e livres do forte odor de urina de bêbados e drogados”.

Com relação a isto, o ex-ministro da Cultura Juca Ferreira questiona: “Este senhor gostaria de ter nascido em algum outro país, sei lá qual... Suíça? Alemanha?”

Juca afirma que “ele rejeita tudo que nos é próprio, tudo que faz parte da nossa singularidade como país e como povo. E parece que odeia tudo que tem a ver com nossas origens africanas. Para comentá-lo, tenho a impresso que temos que recorrer à psicanálise”, diz o ex-ministro.

“O recalque e a negação de si e dos seus semelhantes reflete a assimilação da ideologia dos vencedores e dos dominantes. Não deveria estar à frente de uma instituição que foi criada para valorizar e difundir a contribuição que veio da África para a nossa formação e nossa identidade”, reitera Juca e encerra: “é algo, por parte de Bolsonaro, próximo da pirraça, com nítida intenção de humilhar e depreciar essa herança”.

O escritor, professor e historiador, compositor brasileiro e babalaô no culto de Ifá, Luiz Antônio Simas, afirma não se surpreender com o tuíte de Camargo. “Me surpreenderia se fosse pra comentar um tuíte dele elogiando a festa do carnaval. Eu acho inclusive que é mais uma tentativa de criar factoides jogando pra um público de extrema-direita de uma forma provocativa”.

Simas diz ainda que a frase vem de “uma mistura de ignorância e fascismo. De desejo de combater qualquer coisa que tenha um verniz mais ligado à ludicidade popular. Acho até que a gente não deve perder muito tempo com esse tipo de comentário não. É acender muita vela pra pouco defunto. Esse é um defunto circunstancial que vai, evidentemente, passar na história do Brasil e daqui a cem anos a gente vai estar fazendo carnaval. É pouco defunto pra gastar nossa vela”.

“O carnaval é sólido, é um construtor de sociabilidades, é importante demais pra entender inclusive os dilemas da história do Brasil, os tensionamentos da nossa história”, encerra Simas.

O cantor e compositor mineiro, pesquisador da cultura negra e militante contra o racismo, Sérgio Pererê, foi mais curto e grosso:

“Prefiro não comentar as coisas que esse rapaz fala até para não propagar, para que esse tipo de colocação se perca no vão".

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