Mario Frias, ex-ator de "Malhação" e atual secretário especial da Cultura do governo de Jair Bolsonaro, contratou sem licitação, por R$ 3,6 milhões, uma empresa sem funcionários e que tem sede em uma caixa postal dentro de um escritório virtual.
A Construtora Imperial Eireli, da Paraíba, foi aberta em 2019 e deverá prestar serviços de conservação e manutenção do Centro Técnico Audiovisual (CTAv).
Trata-se de um edifício que pertence à União e que reúne enorme acervo do cinema nacional. A sede do CTAv fica em Benfica, Zona Norte do Rio de Janeiro.
A empreiteira virtual é de propriedade de Danielle Nunes de Araújo. No início de 2020, ela se inscreveu no programa de auxílio emergencial do governo e recebeu o benefício, no total de R$ 3,9 mil, por oito meses seguidos, de acordo com reportagem de Patrik Camporez, em O Globo.
Ainda conforme a reportagem, em agosto, um estudo técnico encomendado pelo próprio CTAv concluiu que há risco de incêndio e desabamento de parte da estrutura. O documento ressalta, ainda, que havia ratos caindo do teto.
Mario Frias assinou, em novembro, a contratação da Construtora Imperial, por intermédio de uma portaria de dispensa de licitação, para resolver o problema.
Empresa fica a 2.400 km do Rio de Janeiro
Porém, a empresa está localizada a 2.400 km do Rio de Janeiro e tem como endereço um escritório virtual, especializado em fazer “gestão de correspondências” para várias firmas.
Danielle Nunes de Araújo, em contato telefônico com O Globo, afirmou que costuma realizar reuniões no local para tratar de contratos. Contudo, o dono do local, Alcir Lima, disse que não se lembra de ter recebido presencialmente a dona ou qualquer funcionário da Imperial.
A Construtora Imperial nunca prestou serviços para o governo Bolsonaro. Além disso, não tem um site ou outro meio eletrônico que mostre em detalhes os serviços que a empresa teoricamente presta.
Segundo parentes e pessoas próximas, Danielle é uma dona de casa discreta e que estava passando por dificuldades financeiras.
Acervo do Centro Técnico Audiovisual inclui mais de seis mil títulos
O CTAv foi criado em 1985, por meio de uma parceria da antiga Embrafilme com o National Film Board, do Canadá. O Centro é responsável por um acervo com mais de seis mil títulos. O órgão também fornece apoio à produção cinematográfica nacional por meio de empréstimos de equipamentos e estúdios, a custo zero.