Fórum Folia: um ano de resistência!

Na coluna desta semana, faço um pequeno balanço dos primeiros 12 meses dessa mistura entre política e carnaval, que tem rendido ótimos sambas!

Ilustração: DGC
Escrito en CULTURA el

Por Estevan Mazzuia *

E o samba passou na avenida popular, mais uma vez...

A Fórum Folia, coluna que busca resistir ao nazifascismo e ao desgoverno federal, sempre traçando paralelos entre fatos da atualidade e momentos históricos da nossa maior festa popular, completa um ano de vida!

Ao longo dessas 52 semanas, lembramos de 45 desfiles, 29 do Rio de Janeiro, 15 de São Paulo e um de Vitória. 37 escolas de samba foram homenageadas em nosso espaço, algumas delas mais de uma vez (Mangueira e Império Serrano três vezes, Beija-flor, Caprichosos de Pilares, Leandro de Itaquera e Porto da Pedra, duas vezes).

Algumas escolas muito importantes ainda não ganharam seu espaço, mas sua hora chegará.

Confesso que, em certo momento, temi o desafio. Mas as pesquisas para a elaboração dos textos revelaram o quanto a história se repete, o quanto das críticas passadas ainda são atuais... e o quanto desfiles despretensiosos podem soar mais politizados, sob a ótica atual. E vice-versa!

No meio do caminho, passamos a ter a maravilhosa contribuição do artista DGC, sempre com suas deliciosas e cirúrgicas charges, abrindo novas portas para que nossa mensagem chegasse a um maior número de pessoas.

Enfim, acredito que o trabalho de unir política e carnaval esteja rendendo bons frutos, atraindo para a festa o olhar daqueles que sempre a viram como algo supérfluo e despolitizado, e para a política o olhar daqueles que sempre a viram como algo distante da celebração popular.

A política está presente em tudo, e no carnaval não poderia ser diferente. Lamentavelmente, muitas pessoas que trabalham com o carnaval o ano inteiro estão absolutamente inebriadas por essa onda recente que criminaliza a política, como se ela não fosse a mais simples consequência das relações sociais.

Essa falsa ideia de política como algo externo à nossa realidade nada mais é do que um projeto de país de uma elite financeira que se vê muito bem representada em nosso Congresso, com maioria de brancos, homens e ricos.

Um projeto que buscou, e vem conseguindo manter, apoio de um naco enorme da classe média, que se espelha naquela elite, embora seja vista por ela apenas como uma útil parte da ralé.

Enquanto a ralé e a elite seguem lutando por seus direitos, essa turma que é parte da primeira, mas se vê integrando a segunda, segue sendo o fiel da balança, lutando contra os seus próprios interesses, na maior parte das vezes.

Essa é, infelizmente, a turma que impera em nosso carnaval, atualmente.

Sequestraram o samba, mas a ralé sempre estará presente, resistindo, ao lado da turma da classe média que tem plena consciência de que é desprezada pela elite.

Decorrido um ano, ainda tenho muita fé na expressão que encerrou meu primeiro artigo para a coluna, extraída da eterna canção de Chico Buarque. E é nessa fé que encontro o amparo para seguir resistindo. Daqui a um ano, a poucos dias de 1º de janeiro de 2023, em meios aos escombros e cinzas do que sobrar do Brasil, poderemos concluir:

Passou!

*Estevan Mazzuia, o Tuta do Uirapuru, é biólogo formado pela USP, bacharel em Direito, servidor público e compositor de sambas-enredo, um apaixonado pelo carnaval.

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.