Lula, 76 anos de luta, pra fazer o Brasil feliz de novo!

Para celebrar os 76 anos de Lula, comemorados nesta quarta-feira, 27 de outubro, vamos recordar a homenagem da Gaviões da Fiel ao presidente, no carnaval de 2012

Ilustração: DGC
Escrito en CULTURA el

Por Estevan Mazzuia *

Alguns leitores bolsonaristas reclamaram que eu nunca falo do Lula. Então, atendendo a pedidos, esta semana eu vou falar.

Luiz Inácio Lula da Silva nasceu em 27 de outubro de 1945, na cidade pernambucana de Garanhuns, na localidade que, desde 1963, é o município de Caetés.

Sua trajetória foi tema do Grêmio Recreativo Cultural e Escola de Samba Gaviões da Fiel Torcida, escola de samba formada por integrantes da maior torcida organizada do Sport Club Corinthians Paulista, no carnaval de 2012.

“Verás que o filho fiel não foge à luta. Lula, o retrato de uma nação” foi o enredo biográfico desenvolvido por Igor Carneiro, Delmo de Moraes e Fábio Lima foi defendido por 3900 foliões, distribuídos em 26 alas e seis alegorias.

Em solidariedade ao presidente, que enfrentava as consequências da quimioterapia, as mulheres trabalharam no barracão da escola com os cabelos presos e, os homens, raspados.

O samba, composto por Grandão, Batata, Netinho, Max, Dentinho, Luciano, Mariano Araújo e Magrão R1, e puxado por Ernesto Teixeira, dizia:

“Companheiro fiel… Por liberdade / Na corrente do bem… Contra a maldade!
Elo forte da democracia / A luz da nossa estrela guia!”

Ainda na concentração, Ernesto relembrou o samba do desfile campeão de 2002, que merece ser revisitado um dia nesta coluna.

O primeiro setor do desfile representava as origens nordestinas do homenageado. Em forma de literatura de cordel, a comissão de frente apresentava uma síntese de sua trajetória, da infância à presidência, passando pela luta sindical.

A porta bandeira representava uma flor de mandacaru e, o mestre-sala, um gavião carcará. As baianas homenageavam Dona Eurírice, mãe de Lula, e outras conotações de “mãe”: a terra e a pátria.

Uma ala coreografada aludia ao signo de escorpião, simbolizando a herança astral do presidente.

O tradicional gavião, símbolo da escola, vinha à frente do abre-alas, desta vez na forma de um carcará. A alegoria representava a partida de Lula do interior de Pernambuco, em 1954, rumo a São Paulo.

Nas alas seguintes, as fantasias indicavam a transformação de Lula a partir do contato com a metrópole, a chegada ao ABC Paulista, onde trabalhou como torneiro mecânico, função que levaria à perda de um dedo, o sindicalismo, a greve de 1979 e a fundação do Partido dos Trabalhadores, em 1980.

Os integrantes da bateria, comandada por Mestre Pantchinho, ostentavam uma vasta barba grisalha postiça, e desfilaram vestidos de operários até a metade da avenida. No setor do recuo, tiraram a parte externa da fantasia, revelando um terno e a faixa presidencial por baixo. O detalhe é que a faixa era preta e branca, e não verde e amarela, uma vez que a Gaviões da Fiel tem por princípio não utilizar a cor verde em seu desfile, peculiaridade decorrente da rivalidade do Corinthians com a Sociedade Esportiva Palmeiras, que tem o verde e o branco como cores oficiais.

O segundo carro alegórico representava o duelo da democracia contra a ditadura, simbolizado na luta do bem contra o mal. As alas que se seguiram lembravam o engajamento de Lula na luta pela liberdade de imprensa, contra a censura nas artes e pelas Diretas Já.

A terceira alegoria fazia menção à campanha presidencial de 1989, “a barca da cidadania em viagem ao coração do Brasil”, e trazia o senador Eduardo Suplicy em meio aos foliões.

“Prato cheio”, “carteira assinada” e “quem casa quer casa” eram as alas seguintes, desejos de muitos brasileiros que se tornariam realidade a partir da eleição de Lula em 2002. O fortalecimento do real, quando a oposição acreditava que o Brasil, com Lula, se tornaria uma Venezuela (sim, esse papo rola desde 2002), também foi lembrado.

Uma réplica do Rolls-Royce presidencial, pilotada pelo ator Fábio Assunção, puxava a quarta alegoria, uma condensação dos elementos arquitetônicos da capital federal com a rampa do Palácio do Planalto à frente, guardada pelos Dragões da Independência.

No último setor, as paixões nacionais: futebol, carnaval e cerveja, compartilhadas por Lula, como bom brasileiro e, acima de tudo, corintiano.

Lutando contra o câncer, Lula não pôde ir ao desfile, mas um telão no centro do símbolo do clube, na última alegoria, projetava uma mensagem em vídeo, devidamente legendada, gravada pelo homenageado especialmente para o evento. À frente do carro, o ex-presidente do clube, André Sanchez, ladeava Dona Marisa Letícia. Uma grande imagem de São Jorge vinha em meio a uma favela, que dominada a estrutura da alegoria.

Com 159,3 pontos, a escola terminou em um decepcionante 9º lugar, em meio a 14 agremiações, mas a apenas 0,7 ponto da campeã, Mocidade Alegre, revelando o equilíbrio que predomina no carnaval paulistano.

Se um dia houver uma reedição daquele carnaval, será necessário incorporar elementos que remetam ao processo judicial que Lula enfrentou anos depois de deixar a presidência, que se revelaria uma farsa comandada por um juiz com ambições políticas. O processo, que resultou na segunda prisão do presidente (a primeira foi por lutar pelos direitos dos trabalhadores, em meio à greve dos metalúrgicos), alçou o tal juiz a um cargo de primeiro escalão do candidato que se elegeu beneficiando-se da prisão de Lula, efetuada pelo tal juiz. Coisa pra Kafka nenhum botar defeito. Ou kafta, como diria um dos ministros da deseducação que integraram esse desgoverno.

Mas ainda dá tempo de sonharmos com uma última alegoria, na qual um Brasil totalmente desfigurado, queimado, machucado, com sinais de agressão ao longo de todo o seu território, e com suas vísceras consumidas pelo descaso, enxerga uma luz e tenta se levantar… Uma luz de esperança, que não pode ser verde, pelos motivos já expostos (mas que pode ser meio amareladinha), e começa a arrancar um sorriso daquele Brasil.

Renasceria um Brasil sem fome, sem inflação, sem desemprego, no qual a luta contra a corrupção não é apenas um lema, mas uma política pública refletida no fortalecimento e independência do Ministério Público e da Polícia Federal. Um Brasil em que as minorias voltem a ter lugar de fala, e a liberdade de ir e vir não se restrinja a ninguém, muito menos em razão de sua origem racial ou social.

Enfim, um Brasil feliz de novo.

Parabéns, Luiz Inácio Lula da Silva, pelos seus 76 anos de luta.

*Estevan Mazzuia, o Tuta do Uirapuru, é biólogo formado pela USP, bacharel em Direito, servidor público e compositor de sambas-enredo, um apaixonado pelo carnaval.

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.