E o Maurício Maestro, do grupo Boca Livre, conseguiu. Bolsonarista convicto, repostador contumaz do guru Olavo de Carvalho, o músico – que já vinha espantando grande parte de seu público – conseguiu fazer com que Zé Renato e Lourenço Baeta saíssem do lendário grupo.
O anúncio foi feito por Memeca Moschkovich, empresária do Boca. Zé Renato escreveu: “Amigos, não é fácil tomar uma decisão, abrindo mão de um trabalho que me deu tantas alegrias. Eu e Lourenço, por razões pessoais, chegamos à conclusão que o nosso ciclo no Boca Livre terminou. Porém, é importante saber que o trabalho do grupo continuará e esperamos sinceramente que tenham sucesso e principalmente saúde”.
Apesar de deixar barato na postagem, Zé Renato foi mais claro em entrevista ao Globo: “Não deixa de ser uma posição política, mas vai além disso. Vejo como preservação de liberdade, no sentido mais amplo da palavra. Não tenho filiação partidária. Mas comecei a ter dificuldade em participar de um grupo em que uma pessoa pensa exatamente o contrário. Não tenho problemas em dialogar, mas o que está acontecendo é a tentativa de cerceamento da liberdade”.
Não foram apenas os dois músicos que deixaram o grupo. A empresária, Memeca Moschkovich também se mandou. “A partir desta data (16/01), não gerencio mais as atividades da marca Boca Livre”, escreveu na mesma nota em que comunicou a saída de Baeta e Zé Renato.
Um dos grandes sopros de alegria, talento e resistência à ditadura, mesmo antes de iluminar a nossa música com canções como “Quem tem a viola” e “Toada”, o Boca Livre já acompanhava o mestre Edu Lobo em seu antológico álbum “Camaleão”.
Certa vez vi uma apresentação deles juntos em Santos. Em determinado momento do espetáculo, Edu Lobo parou e disse: “Esses rapazes são o Boca Livre. Vocês ainda vão ouvir falar muito deles”.
E assim foi durante os últimos 40 anos. O primeiro álbum do grupo conseguiu a proeza de ser o disco independente mais vendido de toda a nossa música na época. Seguiram ao longo dos anos com poucas mudanças na formação, sempre mantendo um padrão de qualidade e inovação inconfundíveis.
As incômodas posições de Maurício Maestro já não vêm de hoje. Nesta mesma Fórum, em 2018, publicamos que o músico havia feito postagem, em sua conta no Facebook, onde fazia críticas a colegas de profissão que, segundo ele, se prestam “ao papel ridículo de defender o ladrão provado e condenado Luiz Inácio da Silva”.
Do ataque a Lula aos braços de Bolsonaro, Maestro conseguiu o que poucos imaginariam. Acabar com o grupo. Restou no Boca o amigo David Tigel, que afirmou: “ele tem uma posição contrária a minha. (Mas o Boca Livre) é um grupo que eu amo muito, não gostaria que acabasse. No sentido do trabalho musical, tenho uma relação muito boa com o Maurício”.