Leoni lança com amigos o projeto Hipopótamo Alado

O primeiro single do coletivo, “Na esquina mais escura do mundo”, é uma leitura de mundo, “som antifascista levitando em sonoridade atmosférica”

Leoni (Divulgação)
Escrito en CULTURA el

O cantor e compositor Leoni acaba de lançar, junto aos amigos Fabiano Calixto, Humberto Barros e Lourenço Monteiro, o projeto Hipopótamo Alado. Trata-se de um coletivo sonoro onde, segundo contam, os participantes não têm função pré-determinada nas composições e arranjos. Todos fazem tudo.

O primeiro single do coletivo, “Na esquina mais escura do mundo”, é uma leitura de mundo, “som antifascista levitando em sonoridade atmosférica, reprocessamentos, colagens, ruídos, melodia, poesia. Música eletrônica. Lança-chamas político-existencial contra o completo sucateamento da vida”.

O que dá ignição à canção é um verso de “Paisagem da janela”, de Lô Borges e Fernando Brant. Uma conversa com as esferas de outros tempos. Se no clássico do Clube da Esquina o tom é suave, de amplidão de esperança, paisagem afetuosa e utópica, aqui, reconfiguramos o diálogo, criando um tom de desolação e sonhos quebrados. Se lá há as “cores mórbidas”, os “homens sórdidos”, aqui temos os “corações devastados”, os “ladrões de vida”, o “futuro feito quase só de passado”.

A música, a criatividade, como bandeiras. O amor, o humor, o horror. A alegria. Sede de vida. Urgência. Saúde nos tempestuosos tempos de peste. Um brilho profundo na esquina mais escura do mundo.

https://www.youtube.com/watch?v=EHyY6Ox0YQA

Na esquina mais escura do mundo

da janela lateral do quarto de pensão

vejo uma igreja, máquina ilusória

muitos muros altos, seguranças de plantão

guardando a velha escória, lixo da história

mensageiro radical, de coisa radicais

quando eu falava desses corações devastados

falava dos ladrões de vida

de desistir, de não sonhar

e de um futuro feito quase só de passado

poeta marginal, querosene e explosão

a alma engatilhada de palavras

poeta furioso

disparando versos de lava

poeta canibal, coração em erupção

o peito cravejado de absurdos

como um brilho profundo na esquina mais escura do mundo

poeta sideral batizado no baião

recolhendo flores pelos cemitérios

da janela lateral do quarto de pensão

a vida sintetiza o antídoto antitédio

mensageiro tropical tropeçando em tanto dor

espalha estrelas nos jardins, explode as vidraças

no sol de quase dezembro

em grandes beijos de amor

a alegria rema contra a maré de marasmo

poeta marginal, querosene e explosão

a alma engatilhada de palavras

poeta furioso

disparando versos de lava

poeta canibal, coração em erupção

o peito cravejado de absurdos

como um brilho profundo na esquina mais escura do mundo