O cineasta José Padilha publicou longo texto na Folha Ilustrada desta terça-feira (10), onde lembra Malcolm X e Martin Luther King para se defender dos ataques que sofreu após ter sido convidado pela escritora e roteirista Antônia Pellegrino para dirigir uma série sobre a vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), assassinada em março de 2018.
Antônia é casada com o deputado federal, Marcelo Freixo (PSOL-RJ). De acordo com o cineasta, “Freixo e Marielle nunca me chamaram de fascista. Pelo contrário, me ajudaram na pesquisa e na pré-produção do ‘Tropa 2’”.
O cineasta diz ainda que “Freixo me deu acesso à CPI das milícias, que frequentei regularmente. Com o sucesso do ‘Tropa 2’, ficou ainda mais popular. Merecido. Senti a importância do gabinete de Freixo e aportei recursos na campanha do PSOL”.
Padilha afirma que saiu do país após ter sido vítima de tentativa de sequestro por parte de policiais milicianos. “Mesmo morando fora”, lembra o cineasta, “Antonia Pellegrino me procurou. Queria ajudar as pessoas mais próximas a Marielle e Anderson. Queria fazer uma série de TV. Queria levar o nome de Marielle aos quatro cantos da Terra. Julgava que, com meu nome no projeto, a série teria mais chances de obter distribuição internacional. E a família teria mais recursos. Aceitei na hora. Negociei por meses. Estava fechando um acordo internacional quando a Globoplay se interessou pelo projeto”.
Padilha afirma que o seu trabalho seria “escrever um roteiro em parceira com a Antonia e dirigir o primeiro de, no mínimo, oito episódios. Além disso, queria ajudar Antonia, a Globoplay e o Instituto Marielle Franco a treinar novos talentos, usando a série como uma espécie de escola”.
O cineasta diz que não conseguiu “nem começar”. “O que aconteceu no dia seguinte ao da assinatura do contrato foi estarrecedor. Além de acusarem Antonia de racismo —apesar de a Antonia estar trabalhando com afinco para montar uma equipe representativa da comunidade negra no Brasil e no exterior— e de me tacharem de fascista (Marielle nunca me chamou de fascista), atacaram a legitimidade da família de Marielle, atacaram a Mônica e atacaram Marcelo Freixo”, diz o diretor.
Padilha diz ter sofrido “um linchamento moral sem direito a respostas ou tempo para explicações”.
Ao final, ele lembra que “o pensamento de Martin Luther King é incompatível com a limitação da liberdade de expressão, com o julgamento de pessoas com base na sua cor e na sua sexualidade. A política de identidade é fundamental, mas levada ao extremo fulmina gente como Malcolm X. (Não, não estou me comparando com Malcolm X.)”
Para encerrar, ele cita mais uma vez Malcon X: “O inimigo, amigos, é o ódio”.