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Resultado da tese de doutoramento defendida por Raphael Silva Fagundes, doutor em História Política, professor e colunista da Fórum, o livro “Herdeiros da facúndia” (editora Multifoco) analisa as estratégias retóricas desenvolvidas pelas elites culturais e políticas do século XIX, envolvidas no projeto de construção da identidade nacional.
O autor parte dos Sermões do padre António Vieira para identificar as raízes da eloquência política brasileira. A partir dessa análise, é possível perceber que, por um lado, tais grupos não herdaram apenas as formas de dominação econômica e social do período colonial, como a escravidão e a grande lavoura, mas também as formas de fabricação de discursos persuasivos eficazes, que serviam para a manutenção dessa mesma estrutura econômica e social.
Na obra, que recebe o intertítulo de “Uma análise da retórica política luso-brasileira nos sermões do Padre Antônio Vieira e nas celebrações do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro”, Raphael menciona uma passagem da Ilíada, de Homero.
“Do imo ao soltar a voz, qual neve hiberna; As palavras em flocos lhe choviam; Com ele então ninguém se comparasse; Na facúndia e no gesto era um portento”.
“Os versos de Homero, na Ilíada, marcam, segundo muitos pesquisadores, as origens do culto que o mundo ocidental presta à facúndia, isto é, à arte do bem falar ou, para invocar um dos seus sinônimos mais familiares, à eloquência”, relembra Raphael.
Ao longo dos séculos e milênios, segundo o autor, o poder de convencimento tornou-se um símbolo da urbanidade. Por sua vez, a “facúndia”, instrumento desse poder, passou a significar eloquência, e ser atribuída a indivíduos que possuem um grande domínio sobre a arte retórica.
[caption id="attachment_205092" align="aligncenter" width="440"] Foto: Reprodução[/caption]
Tradição cristã
“A retórica teve uma missão fulcral. A persistência de aspectos da tradição cristã no conceito moderno de nação possibilitou a permanência de algumas tópicas barrocas. Mesmo com a mudança estrutural na concepção de tempo histórico, o fenômeno nacional se aproveitou de um grande aparato simbólico cristão para se afirmar”, revela.
“No entanto, houve uma ressignificação dos elementos religiosos que iriam compor o discurso produzido pelos membros do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB). Eles se transformavam em artifícios linguísticos para constituir a imagem sagrada do monarca, da nação e da missão dos sócios de coletar fontes e escrever sobre o passado do Brasil”, destaca Raphael.
Os interessados em adquirir o livro devem entrar em contato pelo e-mail: raphaelsfagundes@yahoo.com.br