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Pois é. O Dom Casmurro, livro clássico de Machado de Assis que você leu na quinta série, ou ao menos deveria ter lido, amanheceu nesta sexta-feira (13) entre os assuntos principais do Twitter. Vindos dos estertores do século 19, o casal Bentinho e Capitu desperta a curiosidade e, sobretudo, a ira de gerações desde então.
Pouco importa aos incautos se o romance antecipou de certa forma Freud e a psicanálise, influenciou – e influencia até hoje – autores diversos, entre eles John Barth, Graciliano Ramos e Dalton Trevisan entre muitos outros e é uma das obras fundamentais da literatura brasileira e mundial.
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Desde os primórdios de seu lançamento, a discussão gira em torno – pasmem – da provável traição da moça com olhos de ressaca (linda e indecifrável imagem, não?). Todos nós lembramos os julgamentos terríveis promovidos nas salas de aula. Metade da turma a defendia – o que significava provar que ela não traiu, enquanto a outra metade a atacava: era, sim, adúltera.
Não bastasse isto, lembro de matéria de página dupla na Ilustrada, da Folha, provavelmente na década de 80 do século 20, onde o mesmo julgamento se dava, com a participação de críticos e outros que tais.
Passados cento e tantos anos e o imbróglio criado por Machado de Assis atravessa a caneta tinteiro, modelos sem fim de Olivettis mecânicas e elétricas, pentiums e wordstars, internet e, finalmente, as redes sociais, crítica literária feminista da década de 70, sociologismos entre outras tantas avaliações para que o mesmo julgamento desabe sobre as nossas cabeças. Capitu, afinal, traiu ou não?
Tudo o que se sabe sobre a moça vem das palavras do próprio Bentinho, marido inseguro que manipula os fatos a seu bel prazer e daí vem toda a sagacidade do autor. A sua narrativa conseguiu criar o personagem feminino mais emblemático de toda a nossa literatura. Como diz “Capitu”, a canção também intrigante de Luiz Tatit:
Capitu
A ressaca dos mares
A sereia do sul
Captando os olhares
Nosso totem tabu
A mulher em milhares
Capitu
De resto, a discussão do Twitter desta sexta-feira 13, peneirada aqui e acolá, está deveras divertida e vale ser acompanhada. Ao que tudo indica e parece, evoluímos todos, graças em muito à genialidade de Machado de Assis e seus personagens. Graças à mulher em milhares que antecipava tantas outras.
Uma grande obra, à frente de seu tempo, pois pronta para qualquer tempo.