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O compositor baiano Manno Góes, autor do megassucesso “Milla”, fez duras críticas ao cantor Netinho, intérprete da canção, nesta quinta-feira (7), em sua conta no Facebook. A encrenca foi pelo fato do cantor, bolsonarista assumido, alfinetar Daniela Mercury em reportagem do site Bahia Notícias, por conta da polêmica dela com o presidente Jair Bolsonaro envolvendo a Lei Rouanet.
“Tem muito amor e cumplicidade na história dessa música. Que nos enriqueceu. E minha maior riqueza é ouvir ‘Milla’ sendo tocada e cantada até hoje. ‘Milla’ é mais que uma música; é uma história. Que teve em Netinho, um homossexual não assumido-gente-boa, uma voz… Não me chame de amigo. Não sou seu amigo. Não quero mais ser seu amigo. Você não merece ‘Milla’. Bicha burra”, escreveu Manno no Facebook.
Daniela Mercury, através de uma nota oficial divulgada na tarde desta terça-feira (5), deu uma verdadeira “aula” sobre Lei Rouanet, economia e carnaval ao presidente Jair Bolsonaro.
No texto, veiculado em suas redes sociais, Daniela rebate uma provocação feita mais cedo por Jair Bolsonaro contra ela e o cantor Caetano Veloso. Pelo Twitter, o capitão da reserva postou um vídeo de um homem cantando uma marchinha dedicada aos dois artistas que diz que “o carnaval não está proibido”, mas “não será feito com o dinheiro do povo”.
A provocação de Bolsonaro está relacionada à música “Proibido o carnaval”, lançada no mês passado por Daniela e Caetano. A canção faz referência à fala da ministra Damares Alves (“meninos vestem azul e meninas vestem rosa”) e tem uma mensagem clara contra a censura.
“Sr. Presidente, sinto muito que não tenha compreendido a canção ‘Proibido o Carnaval’, que defende a liberdade de expressão e é claramente contra a censura”, escreveu a cantora.
Leia abaixo a íntegra do post de Manno Góis:
Desculpa aí, galera; mas a Milla que eu compus é Daniela Mercury futebol clube, tá?
A Milla da música é amor!
É liberdade!
É diversidade!
Jamais seria tortura, homofobia, xenofobia, preconceito.
Jamais seria ligada à milícia ou laranjas.
A música “Milla” tem que estar conectada ao lúdico, alegre, divertido, adolescente, amoroso... jamais à essas pessoas horríveis que admiram Bolsonaro e criticam colegas de trabalho por pura maldade, inveja ou burrice.
A Milla fala de mil e uma noites de amor. De alto-astral. De uma lembrança boa e inesquecível; as vezes dolorosa como ferida aberta; eterna como tatuagem.
Eu compus essa música quando era militante do PV (quando o PV era um partido de esquerda).
Eu andava de bata. Fumava maconha e queria ser professor de história.
Milla jamais seria composta por um admirador de Bolsonaro.
Porque um admirador de Bolsonaro de 19 anos, idade em que compus Milla, não ia saber falar para a pessoa que amava que ela era a Ilha do Sol dele. Que ela representa a paz, o amor, a saudade, e as coisas mais puras e bonitas que há em uma relação carinhosa e amorosa.
Milla é uma música simples. Bonita. Fofa. Linda.
Como a pessoa e o sentimento que me inspiraram.
Milla não é fruto de ódio ou torturas.
Milla é pra quem ama. Pra quem chora. Pra quem luta.
Milla é a esperança de dias e pessoas melhores. Milla não faz arminha na mão.
Não critica a liberdade sexual.
Milla é um sorriso gostoso.
Coloquei o nome de Tuca na composição que fiz.
Era pra ser assim. Naquele tempo, nossas conexões permitiram que fosse assim.
Mas Milla é minha. É minha alma. Sou eu falando.
Tem muito amor e cumplicidade na história dessa música. Que nos enriqueceu.
E minha maior riqueza é ouvir Milla sendo tocada e cantada até hoje.
Milla é mais que uma música; é uma história.
Que teve em Netinho, um homossexual não assumido-gente-boa, uma voz.
Não um reaça. Não esse cara de hoje.
O problema não é nem ele ter votado em Bozo.
Conheço um monte de gente que votou naquele imbecil.
Milla pode alegrar o coração até de quem votou em Bozo.
O problema de Netinho é o que ele virou.
Um rapaz que rebate sua colega de profissão, Daniela, com memes e ironias, por ela querer defender o diálogo.
Um rapaz que virou um constrangimento.
Um outdoor de vergonha e retrocesso medieval.
Esse rapaz de hoje jamais faria sucesso com Milla.
Para ele, a história de Milla ficou pra trás.
Acabou.
Milla agora é símbolo de RESISTÊNCIA!
Milla Livre! Lula Livre!
A Milla da música não tem nada a ver com o personagem constrangedor que Netinho virou.
Que NUNCA MAIS vai gravar Milla, ou Pra Te Ter Aqui, ou qualquer coisa que eu compuser.
Não quero estar perto dessa gente que posa de gente, que fala de um Deus malvado, que apoia Ustra!
Qual o sentimento que é pra gente ter sobre Netinho?
Pena, constrangimento ou vergonha alheia?
Naufrague com sua maldade, Netinho.
Se achasse que você só está ainda doente, não te escreveria isso.
Você está são e completamente conectado com esse governo inacreditavelmente perverso.
Não me chame de amigo.
Não sou seu amigo.
Não quero mais ser seu amigo.
Você não merece Milla.
Bicha burra.