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Carlos Rennó, como quase todos os letristas de música popular, não é um nome público. Mas várias canções que levam a sua assinatura são. A mais famosa delas talvez seja “Escrito nas Estrelas”, feita com Arnaldo Black, que venceu o “Festival dos Festivais, em 1985, na voz de Tetê Espíndola.
Arnaldo, no entanto, já vinha de antes. Uma parceria sua com Arrigo Barnabé havia batizado, em 1982, o disco de estreia de Eliete Negreiros, “Outros Sons”. Mais recentemente, assinou com Lenine a canção que homenageia as musas “Todas elas juntas num só ser”, que também fez sucesso.
Em um belo projeto que chega para redimir o anonimato de Rennó e enfileirar várias de suas obras em um mesmo álbum, o selo Sesc acaba de lançar “Poesia – Canções de Carlos Rennó”. O leitor mais habituado à obra do letrista talvez reclame da ausência desta ou daquela canção, entre elas a própria “Escrito nas Estrelas”, mas o disco que faz um apanhado de 16 obras, 9 delas inéditas é excelente, pra dizer o mínimo.
Quase todas são interpretadas por seus próprios autores/parceiros, com os seus instrumentos de origem, o que dá um encanto a mais ao álbum. Segundo o autor, o fato foi proposital e tem a intenção de mostrar as canções da forma como vieram ao mundo.
O disco é um desfiar de artistas consagrados de vários matizes e outros tantos da nova geração. Logo de cara, com João Bosco, que diga-se de passagem é um grande violonista, canta a bela canção “Pintura”.
Logo em seguida, Zeca Baleiro, também com violão e voz, interpreta, “Nova Trova”. Depois dele, entra Moreno Veloso, também acompanhado por seu violão, para cantar a parceria dele com Ana Carolina e letra de Rennó, “Canção pra Ti”.
A única canção que tem vários intérpretes é justamente “Todas elas juntas num só ser”, que traz Ellen Oléria, Felipe Cordeiro, Junio Barreto, Leo Cavalcanti, Pedro Luís, Wilson Simoninha e Lenine. Ao violão, o toque inconfundível de Lenine, o autor da melodia.
A maior parte das canções são românticas, mas Rennó não se furtou de trazer algumas eróticas e até mesmo mais explícitas, como “Minha Preta”, em parceria com Geronimo Santana.
O desfiar de parceiros e participantes do álbum dá a ideia da prestígio que o autor tem entre os músicos. Várias gerações que vão desde Gilberto Gil e João Bosco, passando por Arrigo Barnabé, Tetê Espíndola e Luiz Tatit até Lenine, Ana Carolina, Paulinho Moska, Arnaldo Antunes, Chico César, Leo Cavalcanti, Roberta Sá, Felipe Cordeiro, Wilson Simoninha entre muitos outros dão a amplidão do todo.
O disco segue em tom íntimo e muito bem cuidado do princípio ao fim. Vale não só como documento da obra de um dos grandes poetas da nossa canção popular, como também como um lindo álbum para ser ouvido e reouvido pelo simples prazer da fruição.
Pra quem chega ao seu final, antes de retornar ao princípio, fica ainda guardado o lindo presente de ouvir Gilberto Gil declamar a letra de “Átimo de Pó”, parceria dos dois gravada no álbum “Quanta”, de 1997: “Eu e o nada, nada não/O vasto, vasto vão/Do espaço até o spin/Do sem-fim além de mim/Ao sem-fim aquém de mim Den de mim”.