Os 50 anos de disco de estreia dos Mutantes

O resultado é inesquecível, profuso, repleto de tendências e timbres, arranjos inusitados, enfim, uma farra que rimava com toda a barafunda que rolava mundo afora naquele momento

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Os meninos, chamados de Os Mutantes, já eram bem manjados aqui e acolá em programas de TV, festivais, shows ao vivo entre outros. Estouraram mesmo no III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record, em 1967, quando acompanharam o cantor e compositor Gilberto Gil na sua antológica “Domingo no Parque”.

O disco de estreia só veio mesmo um ano depois e agora, no meio de 2018, por mais incrível que possa parecer, acaba de completar 50 anos de seu lançamento. O álbum foi batizado singelamente de “Os Mutantes”. Não foi um sucesso retumbante, como basicamente nada do grupo, mas, por outro lado, é impossível qualquer conversa séria sobre música brasileira onde o disco não entre, assim como vários outros que gravaram.

No princípio, os Mutantes eram basicamente três, ou seja, a loirinha Rita Lee e os irmãos Arnaldo e Sérgio Baptista. Extremamente simpáticos, irreverentes e criativos, pegaram esta primeira chance e não se fizeram de rogados. Tiveram direito até a um George Martin próprio, o maestro tropicalista Rogério Duprat que, de certa forma, requalificou a ousadia da garotada.

O resultado é inesquecível, profuso, repleto de tendências e timbres, arranjos inusitados, enfim, uma farra que rimava com toda a barafunda que rolava mundo afora naquele momento. O trio tinha um talento musical abusivo. Tocavam bem diversos instrumentos, cantavam e vocalizavam muito bem e estavam repletos de energia.

O repertório, como quase todo disco de estreia de uma banda de rock ficou dividido entre canções de terceiros e composições próprias. Logo de saída, feita quase que por encomenda, a antológica canção “Panis et Circenses”, de Caetano Veloso e Gilberto Gil, quase que indivisível do grupo, escancara o escárnio às pessoas na sala de jantar ocupadas em nascer e morrer. O caminho estava traçado.

A partir dali, com outra canção inédita, desta vez do então Jorge Ben, Os Mutantes esbanjam suingue com “A Minha Menina”. Logo depois, a esquisitíssima e psicodélica “O relógio”, composta pelo trio, inaugura o repertório autoral. Posto isto, mais uma volta de 360 graus pra ir parar no animado baião de Humberto Teixeira e Sivuca, “Adeus Maria Fulô”.

Até então, nada de exatamente rock and roll e, na mesma toada, a um tanto reflexiva “Baby”, de Caetano, enche o caminho de cores com uma versão virada do avesso. Mais uma composta pelo trio, manda o “Senhor F” dar “um chute no patrão”, com direito à polifonia e final falso estilo Beatles. Outra virada do avesso, mais uma vez de Caetano e Gil e uma versão repleta de ruídos para “Bat Macumba”, também de Caetano e Gil.

Do repertório anterior de Rita Lee, foi parar no disco a singela “Le Premier Bonheur du Jour”, clássico francês de Frank Gérald, Jean Renard gravado por Françoise Hardy. Outra do trio, desta vez com o dedo de Caetano, “Trem Fantasma” recria de maneira magistral, com melodia e arranjo circulares, o efeito do brinquedo de parque de diversões.

Para encerrar, Os Mutantes fizeram versão para o clássico da banda Mamas and the Papas "Tempo no Tempo (Once Was a Time I Thought)" e, logo em seguida, também de autoria do trio, "Ave Gengis Khan".

No final das contas, um disco que entrou para a história e, de quebra, ficou em nono lugar na lista da revista Rolling Stone entre os 100 melhores discos de música brasileira de todos os tempos.

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