Escrito en
CULTURA
el
Milton Medusa é um dos grandes guitarristas do Brasil. Tem um vasto currículo, que vai desde o seu trabalho solo com o Medusa Trio até sua atuação como músico de apoio de artistas como Frejat, Percy Weiss, Willie, Serguei, Mozart Mello e Kiko Muller.
A boa notícia é que ele acaba de lançar o belo “Medusa Trio – 10 Anos”, com um apanhado de tudo o que andou fazendo de bom por todos estes anos, ou seja, blues, rock, rock progressivo, jazz fusion e tudo o mais que vier, até mesmo um tantinho de MPB.
A despeito do gênero, Milton toca bem, com maestria, virtuose e, sobretudo, bom gosto. É também um excelente compositor. Suas melodias são feitas sob encomenda para a guitarra, mas vão muito além de pretextos melódicos. Têm a marca registrada do instrumento, mas voam para além dele.
“Sábado de Sol” é um belo exemplo. Um blues clássico, de poucas notas, que se desdobra em uma bem engendrada composição onde os ares de Santos, a bela cidade natal do autor, aparecem feito mágica. A cidade volta a aparecer indisfarçável em “Ondas Rolando no Mar”, hard-core melódico, construído em pequenas e certeiras células.
É importante ressaltar que as melodias bonitas fazem parte de todo o jeito de pensar e executar de Medusa. Muitas vezes, os seus improvisos são tão bem construídos e bonitos quanto a própria composição.
“Guitarras Brasileiras” é uma homenagem aos guitarristas Pepeu Gomes, Armandinho, Robertinho do Recife e Mozart Mello. De acordo com o autor, um riff que mistura todas essas referências. Um tiro na mosca que nos remete direto à “Malacacheta”, de Pepeu. Em “Anos 70”, Medusa diz ter misturado um pouco de tudo o que gosta na década, incluindo até o Clube da Esquina, de Milton Nascimento e seus amigos mineiros.
E, por falar neles, numa única exceção em que não é compositor, Medusa regrava de forma corajosa e completamente nova a emblemática canção “Trem Azul”, de Lô Borges e Ronaldo Bastos. O trem foi parar no Mississipi e virou um blues, com direito a um belo improviso na sua parte central. A gravação original, do álbum Clube da Esquina, traz também um solo de Toninho Horta que ficou famoso, a ponto de ser citado e reproduzido por Tom Jobim com vozes, na sua versão da canção. Medusa, ao contrário, tomou para si a canção e renovou tudo.
“O Blues do Rock” é uma faixa que funciona quase como um anúncio do guitarrista. Apesar da versatilidade e capacidade para tocar qualquer gênero, é exatamente aqui, no limite entre estes dois ritmos que ele está em casa. As frases, o suingue, a limpidez na execução e a inventividade, aliados ao toque dos parceiros do disco, Fernando Tavares, no baixo e Luiz Pagoto, definem, nesta faixa, a alma do disco e da trajetória musical do seu autor.
O clímax do álbum se dá em “6 Cordas e Muitas Alegrias”, onde Medusa promove uma verdadeira farra com os parceiros Robertinho do Recife, Sérgio Hinds, Mozart Mello e André Cristóvão. Cada um dos trechos remete ao gênero preferido do guitarrista correspondente.
O resultado é uma festa de virtuose, energia e alegria, assim como todo o álbum. Longa vida e muito mais e melhores blues ao Medusa Trio.