Os 80 anos de Jô Soares, um dos nossos artistas mais completos

Poucos podem, assim como ele, olhar para trás, ainda em vida, e perceber que o país seria outro, não fosse por seu legado

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Poucos podem, assim como ele, olhar para trás, ainda em vida, e perceber que o país seria outro, não fosse por seu legado Por Julinho Bittencourt Jô Soares completa, nesta terça-feira (16), 80 anos. Ao que tudo indica, o simpático gordo começa a passar a régua na sua agitada vida da forma como a conduziu, ou seja, com mais agitação ainda. Ajude a Fórum a fazer a cobertura do julgamento do Lula. Clique aqui e saiba mais. O primeiro indício foi a publicação do primeiro volume de sua biografia, escrita a quatro mãos com o jornalista e amigo Matinas Suzuki, “O livro de Jô: uma autobiografia desautorizada” que, bem a seu jeito, traz trocadilhos e graça desde o título. O Livro de Jô - Foto: Divulgação Jô entrou nas nossas vidas lá atrás, com a hilária “Família Trapo”, onde interpretava um mordomo de uma família classe média, ideia estapafúrdia por princípio. Ali contracenava com outros humoristas excelentes, como Ronald Golias, Renata Fronzi, Otello Zeloni, Ricardo Corte Real e Cidinha Campos. O programa, coisa que poucos sabem, foi uma criação do próprio Jô, em parceria com Carlos Alberto de Nóbrega. Talvez tenha sido a primeira grande comédia de costumes da TV brasileira, seguida pela também excelente “A Grande Família”, que era escrita por Oduvaldo Vianna Filho. Família Trapo - Foto: Divulgação Jô Soares é um faz tudo. Escreve, interpreta, pinta, toca alguns instrumentos, entrevista de forma magistral, enfim, enumerar tudo o que inventou nestes anos todos é tarefa mesmo para vários volumes. Durante muitos anos, na década de 80, Jô Soares apresentou, na lendária Rádio Eldorado de São Paulo, o programa “Jô Soares Jam Session”. Apaixonado pelo ritmo, nos entregou de bandeja preciosidades da música americana, sempre com comentários inteligentes e, é claro, muito bem-humorados. Teve também vários programas humorísticos, com personagens inesquecíveis. O mais longevo e famoso de todos foi o “Viva o Gordo”, que originalmente se chamava, em plena ditadura “Viva o Gordo, Abaixo o Regime”, título obviamente vetado pela Rede Globo. Jô em "Viva o Gordo" - Foto: Divulgação TV Globo Em 1988, deu início à outra faceta sua, a de apresentador, na época no SBT de Sílvio Santos, com o título de “Jô Soares Onze e Meia”. Uma das graças do programa é que nunca entrava no ar no horário que o nomeava. Com a sua desfaçatez característica, Jô Soares chamou várias vezes a atenção, inutilmente, de seu patrão por isso. No ar, é claro. A despeito de, em muitas vezes falar mais do que ouvir, Jô Soares nos entregou um formato de talk-show que já era sucesso nos EUA e só poderia funcionar em um ambiente democrático. Capaz de incorrer sobre vários assuntos, ele foi o responsável por grandes momentos, revelações e informações. Levou candidatos à presidência, políticos, músicos entre muitas outras personalidades anônimas que, graças ao seu talento de entrevistador, geraram momentos inesquecíveis. O “Jô Soares Onze e Meia” foi para a Globo, em 2000, e, rebatizado de "Programa do Jô", lá ficou até o seu fim, em dezembro de 2016. Já com sinais de fadiga e a fórmula um tanto gasta, emissora e apresentador chegaram à conclusão que era hora de parar. Com todas as suas contradições e idiossincrasias, que no final das contas são as de todos nós, Jô Soares chega aos 80 como um dos artistas mais completos e importantes do Brasil. Poucos podem, assim como ele, olhar para trás, ainda em vida, e perceber que o país seria outro, não fosse por seu legado. Foto: Reprodução TV Globo