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Seis anos após o seu lançamento, o Netflix finalmente coloca à disposição de seus assinantes o excelente longa de Martin Scorsese sobre a vida do ex-beatle.
Por Julinho Bittencourt
Finalmente chega ao Brasil, seis anos após o seu lançamento, o documentário “George Harrison – Living in the Material World”, de Martin Scorsese. O filme, conforme o título indica, é um precioso e detalhado apanhado da música e da vida do ex-beatle, que vai desde asua infância, passa pela formação da famosa banda até a sua morte, com depoimentos de parentes, amigos e, é claro, os remanescentes Ringo Starr e Paul McCartney.
Ao contrário dos outros musicais do cineasta, como “Last Waltz” (1978), com o grupo canadense The Band; “No Direction Home” (2005), com Bob Dylan e “Shine a Light” (2008), com os Rolling Stones, “George Harrison – Living in the Material World” nunca foi lançado no Brasil. Foi apresentado em algumas poucas salas de arte e sequer ganhou versão em DVD com legendas em português.
A lacuna foi preenchida pelo Netflix, que colocou à disposição de seus assinantes o longa de 3h40 de duração. Dividido em duas partes, o filme é um deleite, não só aos aficionados, como também a qualquer um que tenha interesse pelo período histórico e, sobretudo, por espiritualidade, meditação, cultura e música indiana.
Harrison mergulhou fundo no misticismo e foi um dos grandes responsáveis pela difusão da música, cultura e filosofia krishna. Com toda a certeza, não fosse por ele e Ravi Shankar, um de seus grandes amigos e participantes do filme, não seria a tamanha celebridade musical que se tornou, especialmente no ocidente.
A saga dos Beatles, as brigas e principalmente o sucesso, tudo isso é dissecado à exaustão, tanto pelos Beatles remanescentes quanto por amigos, parentes e colaboradores que estavam presentes. Num dado momento, Yoko Ono, viúva de John Lennon e eterna culpada pela separação do quarteto diz que George era o único que não a tratava com distância e hostilidade.
Cenas comoventes de depoimentos de amigos como o guitarrista e bluesman inglês Eric Clapton captam com muita sensibilidade e amplidão a personalidade tímida e surpreendentemente bem humorada de Harrison. Uma cena impagável mostra ele e alguns amigos assistindo um clipe antigo dos Beatles cantando “This Boys”, enquanto George morre de rir, faz comentários muito engraçados e, de quebra, canta junto do vídeo os trechos de seu vocal.
O mais importante, contudo, são os comentários musicais, o surgimento de seus discos e as revelações de quem estava por parte no momento em que foram feitos. O produtor Phil Spector, por exemplo, conta em detalhes a preparação e as gravações do lendário “All Thing Must Pass”, o álbum triplo considerado por muitos o melhor disco solo de um ex-beatle. A canção “My Sweet Lord”, por exemplo, por conta de sua extrema religiosidade, foi dúvida até final e acabou virando um dos maiores sucessos da música pop.
“George Harrison – Living in the Material World” conta em detalhes a vida e a obra de um dos artistas pop mais importantes do último século. Como todo bom documentário, é ágil, vibrante e consegue se conectar durante todo o tempo e com muita intensidade com o seu tempo. Imperdível.