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Por Julinho Bittencourt
Após cinco anos sem gravar, o cantor e compositor pernambucano Otto volta com o belo disco “Ottomatopeia”, onde mistura canções repletas de energia, confissões pessoais, considerações a respeito do mundo contemporâneo, da política, com uma sonoridade altamente roqueira e vários parceiros e participantes.
O disco, produzido por Pupillo, da conterrânea banda Nação Zumbi, contou com a participação de Roberta Miranda, Céu, Manoel Cordeiro, Felipe Cordeiro, Andreas Kisser e Zé Renato, nomes que por si só já mostram o quanto interessante e profuso é o resultado.
A sonoridade de “Ottomatopeia” é bastante incomum e interessante. Lembra em muito a parede sonora do produtor americano Phil Spector, com uma textura firme, onde há a impressão de várias dobras de instrumentos.
De acordo com as informações de lançamento, as inspirações do artista para o disco foram o rock como sonoridade e comportamento; a África e a sua cultura ancestral; o romantismo alemão; o trabalho do fotógrafo japonês Araki Nobuyoshi; tortura política; e o mundo contemporâneo.
Das onze canções do disco, dez são inéditas e uma delas é a releitura para o clássico de Roberta Miranda “Meu Dengo”, que ganhou versão explosiva e reverente, com um lindo dueto dos dois. Otto consegue falar ao mesmo tempo para o público dos dois. Guitarras distorcidas, bateria pesada e uma forte parede sonora, não descaracterizam a canção e seu clima de bordel de beira de estrada.
Otto levou cinco anos para finalizar o disco. “Acredito que este seja o mais completo, se comparado com os anteriores", disse. "Desde a minha criação até a produção de Pupillo, a harmonia de poesia e música, tudo parece estar mais maduro. As interpretações de cada música estão muito viscerais e verdadeiras. Me passa a impressão de algo genuinamente pronto, o que me causa extrema alegria e satisfação, completa.”
O fato é que Otto tem sido um dos artistas mais ousados, originais e corajosos de sua geração. Quando grava não mira a nada propriamente dito, muito menos o sucesso, não está nem aí. O resultado são discos vigorosos, com canções bonitas, bem elaboradas e sem nenhum direito a hit nesses tempos de sofrência e outras pataquadas.
Além disso, Otto não se furta de dizer o que quer e o que pensa, o que acaba levando o artista a um certo ostracismo involuntário por parte da grande mídia.
“Ottomatopeia” surpreende pelo resultado final. É, de fato, um disco de gente grande, de um artista amadurecido, com ótimas canções e uma forma inédita e única de as vestir. Letras instigantes, um instrumental sólido e muito bem captado e grandes ideias. Além disso, Otto está cantando como nunca, de forma livre e emocionada.
No final das contas, não falta nada para “Ottomatopeia” se tornar um clássico da nossa música.
Ouça o álbum completo: