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Por Julinho Bittencourt
Kátya Teixeira é cantora, compositora, pesquisadora e artista da capital de São Paulo que, na contramão de tudo e todos, se dedica totalmente à nossa cultura popular. Com uma voz linda e límpida, grande musicalidade e bom gosto, poderia trilhar todo e qualquer caminho dentro da música. Por pura e simples determinação da paixão, optou pelos mais tortuosos e longínquos. Com isto, é capaz de cantar o fandango de Cananéia, congadas de Jequitibá, toadas, modas e folias de todas as partes, além de namorar vivamente com a cultura latino-americana.
Pelos mesmos caminhos de sempre, mas com ênfase nas suas composições, Kátya acaba de lançar o álbum “As Flores do Meu Terreiro”, como sempre com uma linda capa cheia de dobras e gravuras feitas por ela mesma, uma artista plástica de mão cheia.
Num projeto corajoso, onde ela é o único músico a participar, Kátya resgata a figura do menestrel/trovador e se apresenta compondo, tocando violões de 6 cordas, tercino e requinto de cabaça, ronroco e guitarrón uruguaio.
Com grande maturidade musical, ela mostra destreza e excelente execução nestes vários instrumentos, com grande sincronia entre composição, interpretação e execução. Impossível separar, no final das contas, todos os elementos que formam as flores do terreiro da cantora, criadora e instrumentista.
Suas composições são bonitas, poderosas e partem do mesmo universo que sempre frequentou, ou seja, o cancioneiro popular. Basicamente, ela compôs as melodias para letras de vários parceiros, como Consuelo de Paula, Paulo Nunes, Catarina Basso, Paulo Matricó, João Evangelista Rodrigues, Lígia Araújo, Rogério Santos, Gildes Bezerra, Beth Magalhães, Wander Porto e Victor Batista.
Outro ponto a se destacar neste “As Flores do Meu Terreiro” é a ambientação sonora. Tudo parece feito com a mesma simplicidade de todo o álbum. O ouvinte tem a sensação que Kátya Teixeira está cantando ao seu lado, sem nenhum equipamento e muito menos efeitos, cortes, sobreposições e truques de estúdio.
Mérito para o produtor. O disco foi gravado com tomadas acústicas por André Magalhães, ao lado do fogão de lenha e em meio a Mata Atlântica na Serra do Mar Paulista. Kátya priorizou o tom intimista do momento da criação das canções.
“As Flores do Meu Terreiro” é mais um lindo álbum dessa grande artista brasileira que é Kátya Teixeira. Inquieta e repleta de novidades, nos entrega, mais uma vez, cantos que vêm da sua alma. Sons indivisíveis que nos chegam na contramão de tudo e todos que vêm do mercado.
Kátya é única e sua música não tem parâmetros. Cada canção nos remete a um ritmo, um canto de alguma parte e nos leva embora de volta a todos os lados. Um disco que parece feito, como dito acima, na beira do fogão, mas que evoca o mundo, seus povos e todos os seus cantos.