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“Rés”, da Corpórea Companhia de Corpos, aborda as várias formas de encarceramento do corpo feminino, negro e periférico. A primeira obra de uma trilogia estreia nesta terça-feira (17), no Sesc 24 de Maio.
Da Redação*
Dançar para refletir sobre a condição das mulheres negras e periféricas em situação de cárcere no Brasil é o objetivo dos integrantes da Corpórea Companhia de Corpos, no espetáculo de dança “Rés”, que estreia nesta terça-feira (17), no Sesc 24 de Maio, em São Paulo. Entre os temas abordados na obra estão a invisibilidade, a vulnerabilidade e as diversas formas de violência que atingem estes corpos femininos encarcerados.
“Para além das grades e cadeados, “Rés” procura lançar o questionamento sobre quantas portas fechadas já existiram, existem e ainda existirão na vida dessas pessoas que, de certa forma, são marcadas por serem mulheres negras. A obra faz uma análise também sobre o entorno e sobre as mulheres que acabam levando uma vida de encarceramento por terem companheiros, filhos e outros familiares em situação de cárcere”, descreve a companhia.
Dirigida por Verônica Santos, esta é a primeira obra de uma trilogia do grupo, cujo principal tema de investigação é levar ao público “um novo olhar sobre como transladar o corpo negro cotidiano para a cena”. Apesar do nome da peça ser o feminino da palavra 'réus', a obra não representa literalmente presidiárias como personagens, figuras ou bailarinas, mas utiliza a dança para apresentar três corpos femininos e negros encarcerados física e metaforicamente como forma de promover reflexões e denúncias.
“Usamos os nossos corpos para denunciar o que um corpo negro feminino sente em uma situação de encarceramento. É por isso que a encenação não fala de números estatísticos. Buscamos uma reação da plateia, um incômodo ou simplesmente um estado de inércia. Não porque são espectadores, mas sim por sentirem o peso do encarceramento, queremos remetê-los às suas próprias realidades. Em “Rés”, a plateia nunca é um mero observador”, declara Malu Avelar, uma das criadoras da Corpórea.
“Decidimos evidenciar o protagonismo do corpo negro dentro das estruturas sociais. Quando falamos desse protagonismo, estamos dizendo que a nossa pesquisa são esses corpos em ação. Sabemos que na estrutura social brasileira pouco se vê pessoas de peles negras ocupando altos cargos, desde as artes até a construção civil. Então, entendemos que quebrar essa estrutura vai um pouco mais além de ocuparmos os lugares que dizem não nos pertencer. Assim, entendemos que, para essas estruturas serem quebradas, deveríamos, então, evidenciar esses corpos numa estrutura que chamamos de 'protagonismo', corpos que constroem e são invisibilizados pela desvalorização da cor da pele associada ao campo de trabalho”, afirma o ator William Simplício. O teatro do Sesc 24 de Maio fica na Rua 24 de Maio, 109, em São Paulo. Informações: (11) 3350-6300.
*Com informações da Rede Brasil Atual
Foto: Gal Oppido/Divulgação