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Uma linha comum de ônibus de São Paulo, partindo do bairro da Aclimação, passa pelos principais pontos turísticos do centrão, se revelando um grande City Tour, por apenas R$ 3,80. Se você tiver o Bilhete Único pode embarcar e desembarcar quatro vezes pelo mesmo preço. Vamos seguir viagem? Acompanhe cada detalhe abaixo.
De Tiago Caramuru colaborador da Rede Fórum
Minha irmã Carolina se mudou, recentemente, para a Liberdade. Ela sempre me conta sobre o trajeto que faz para vir de lá até Perdizes, onde eu moro: "Você já pegou o ônibus elétrico pra voltar do Centro? Olha só que legal...". O ônibus sobre o qual ela falava é o Cardoso de Almeida / Machado de Assis e, o "que legal", era sobre o seu trajeto ser, basicamente, o melhor passeio que se pode fazer pela história de São Paulo. No caminho estão os principais marcos da cidade, entre símbolos da Belle Époque, museus, praças nostálgicos e arranha-céus modernistas. Entre eles, há sempre um cantinho retrô para parar, tomar um café e admirar, quem diria, a imensa beleza de São Paulo. O melhor: custa R$ 3,80, já que é um ônibus de linha normal.
Caro para a rotina do paulistano, mas mais barato que qualquer city tour. Lembrando que: 1 - tendo o bilhete único, você consegue fazer até quatro embarques em um período de duas horas, pagando apenas uma tarifa; 2 - sem o bilhete único, há de se pagar uma nova tarifa a cada embarque. Mas não se preocupe. Se você quiser investigar os lugares com suas próprias pernas, vários deles estão a uma distância caminhável, especialmente no trecho que vai do Páteo do Collégio até o Teatro Municipal.
O Oriente na Liberdade
Bairro da Liberdade/SP
Após partir da Aclimação, com o letreiro Cardoso de Almeida, o 408A-10 parte rumo ao bairro da Liberdade, onde leva cerca de 15 minutos para chegar. A maior concentração de japoneses fora do Japão, no mundo, a Liberdade é um mundo a parte, cheio de tradições e costumes próprios. Para bater pernas entre as lojinhas e restaurantes, tome como referência as ruas Galvão Bueno e a Rua dos Estudantes.
Para lembrar que os japoneses não vivem só de peixe cru e karaokê, não deixe de experimentar os pratos quentes do Porque Sim. Agora, do Karaokê, você não vai fugir. Alugue uma sala com seus amigos para, depois da refeição, soltar a voz.
Praça da Sé e Páteo do Collégio
Catedral da Sé/SP
A próxima parada é a Praça da Sé, onde esta a Catedral de mesmo nome e o marco zero de São Paulo. A Catedral é uma das mais imponentes da América Latina e, apesar de muito conhecida, quase não é visitada. Seu interior tem uma cripta exuberante e ostensiva no subsolo, que é praticamente uma igreja dentro da outra. Já o marco zero determina o ponto mais central de São Paulo, apesar de não ter sido exatamente onde a cidade começou. Atrás da catedral, vale a pena passar um tempo olhando as fotos em preto e branco do salão superior da Padaria Santa Tereza, instalada ali desde 1872. Além da atmosfera dos anos 20, os preços são ótimos.
Páteo do Collégio/SP
Próximo dali, na Rua Boa Vista, está o Páteo do Collégio, lugar exato onde São Paulo foi fundada. Logo depois de cruzar a Ladeira Porto Geral (que serve de acesso à Rua 25 de Março e o Mercado Municipal de São Paulo), o ônibus chega ali. Foi neste ponto que, em 25 de janeiro de 1554, o Colégio dos Jesuítas foi fundado. Entre genocídios de indígenas e avenidas que ataram rios, as lembranças tristes deram lugar a uma praça ampla, com um pelourinho bem à frente da estrutura do colégio. Lá dentro, um café charmoso e agradável, aproveitando a área verde e aberta, mantida nos fundos do restaurante. Vá de manhã para experimentar o pão integral com manteiga. Digo para ir de manhã porque, de tão gostoso, ele esgota-se antes da hora almoço.
Mosteiro do São Bento, o pão dos monges e o Café Girondino
Mosteiro do São Bento/SP
Continuando pela Rua Boa Vista, o elétrico alcança sua esquina com a Rua Líbero Badaró, mas não antes de se avistar, à sua direita, o Mosteiro de São Bento. O mosteiro, estabelecido desde 1598, só é aberto para visitas guiadas. A igreja neo-gótica construída durante os anos 10 pode ser visitada também, junto com a Padaria do Mosteiro, que vende bolos e outros doces feitos pelos monges. Se na padaria tudo é caro e o negócio é comprar uma lembrancinha pra trazer pra casa, ali na frente está o Café Girondino, pra quem tem fome agora. O ambiente de três andares desse restaurante inaugurado há mais de cem anos faz ser possível imaginar São Paulo em sua versão mais romântica, com luzes de lampião e bondes cruzando as ruas do Centro. Na dúvida do que pedir, experimente o arroz doce: é certeiro.
A capital mundial da gastronomia também está no centrão
Banespão, no fundo à esquerda e o Edifício Martinelli/SP
Voltando à Rua Líbero Badaró, esta é parte onde estão concentrados mais símbolos da nossa metrópole. Quando o ônibus cruza o final da Avenida São João, você tem: 1 - à sua direita, a Praça do Correio, que teve sua sede reformada recentemente e está tinindo de bonito; 2 - à sua esquerda, a Praça Antônio Prado, onde fica o Banespão e o Prédio Martinelli, edifícios símbolos do início da era megalomaníaca de São Paulo, por volta dos anos 20. Ambos edifícios já foram considerados os mais altos da cidade, na época de em que foram construídos, e tem grandes referências art decó. Eles trazem um ar novaiorquino para o largo, que ainda conta com engraxates e bancas de jornal instaladas em coretos de madeira. Tanto a Praça do Correio, quanto a Praça Antônio Prado, são 10% para pedestres. Estando a pé, não deixe de almoçar no Guanabara, tradicional restaurante de pratos típicos paulistas, muito bem servidos. Se a fome não for tanta, prefira uma empada da Mercearia Godinho, mercadinho desses do tempo em que se levava a lista de itens para que o balconista os colhesse. Logo após, teste sua força de vontade e não coma todos os doces portugueses expostos na vitrine da Doçaria Mathilde. Mais pra noitinha, um chopp no ambiente de pub bávaro do Salve Jorge é um bom encerramento. Digo, encerramento do roteiro gastronômico, porque o tour continua!
O Theatro de São Paulo
Theatro Municipal/SP
O 408A-10 deixa a Rua Líbero Badaró quando entra no Viaduto do Chá, cruzando-o por sobre o Vale do Anhangabaú, até chegar à outra extremidade. Lá, estão localizados o Shopping Light e o Theatro Municipal. O primeiro, assim batizado por ter abrigado o primeiro prédio da companhia de energia que servia São Paulo, a Light. O segundo, até hoje um dos maiores símbolos da cidade, o Theatro Municipal resiste, mesmo engolido por blocos de concreto sem conceito, erguidos no boom econômico dos anos 60 e 70. Inaugurado em 1911, o palco deste teatro apresentou eventos como a célebre Semana de Arte de 1922, quando Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Anita Malfatti, Heitor Villa-Lobos, Di Cavalcanti e outros ilustres artistas paulistanos foram revelados. Hoje, após várias restaurações, o Municipal continua sendo uma grande referência de arte erudita, com extensa programação de espetáculos, exibição de orquestras e balés.
Lardo do Paissandú, Galeria do Rock, Ipiranga com a São João
Galeria do Rock/SP
Contornado o teatro, o ônibus entra, novamente, na Avenida São João. A via, que foi projetada para ser a principal rua de São Paulo, não é mais tão atrativa quanto em décadas passadas. Ainda assim, continua sendo referência. Logo em frente ao Largo do Paissandú, uma de suas maiores referências: o Shopping Center Grandes Galerias - ou, simplesmente, Galeria do Rock. Com mais de 450 lojas que vendem discos, estampas, roupas, tatuagens e todo tipo de produto relacionado a rock, rap, hip hop e graffiti, a galeria é um ponto de encontro dos amantes das artes de rua desde 1962.
Higienópolis e Pacaembu
Estádio do Pacaembu/SP
Concluindo o giro pelo Centro, o ônibus deixa da Avenida São João na junção com a Avenida Ipiranga, esquina imortalizada por Caetano Veloso, na canção Sampa. Deste ponto em diante, ele leva cerca de 20 minutos até atravessar o abastado bairro de Higienópolis, até chegar ao Pacaembú. O cativante estádio, oficialmente nomeado Paulo Machado de Carvalho, tem fachada inspirada no Estádio Olímpico de Berlim e já abrigou clássicos paulistas aos montes, além de jogos da Copa de 1950. Hoje, é a casa do Museu do Futebol, pioneiro em interatividade e tecnologia de interação. Não fica devendo em nada para museu de time europeu nenhum.
Atrações
Catedral da Sé
Preço: Gratuito para entrar na Catedral / R$ 7,00 para visitar a Cripta
Horários: Segunda a Sexta, das 9h às 11h30 e das 13h00 às 17h30. Sábados, Domingos e feriados, das 9h às 11h30 e dsa 13h às 15h.
Páteo de Collégio (museu)
Preço: R$ 6,00
Horários: Terça a Domingo, das 9h às 16h30.
Mosteiro de São Bento
Preço: R$ 170,00 pelo café da manhã com tudo liberado + visita guiada pelo mosteiro. A missa é gratuita.
Horários: Missas às 7h em dias úteis e às 6h aos sábados.
Edifício Martinelli
Preço: gratuito para ir ao topo.
Horários: Segunda a Sexta, das 10h as 16h.
Edifício Altino Arantes (Banespão)
O mirante do Banespão está fechado para reformas, sem previsão de reabertura.
Theatro Municipal
Consulte a programação pelo site: theatromunicipal.org.br .
Museu do Futebol
Preço: R$ 10,00. Entrada gratuita aos sábados.
Horários: das 10h às 17h, de Terça a Domingo. O museu fecha em dias que o estádio recbe jogos oficiais.
Onde Comer
Café do Páteo do Collégio
Endereço: Largo Páteo do Collégio, 02 - Centro
Horários: 9h às 16h30
Café Girondino
Endereço: Rua Boa Vista, 365 - Centro
Horários: 7h30 às 22h
Doçaria Mathilde
Endereço: Praça Antônio Prado, 76 - Centro
Horários: 9h às 19h30
Salve Jorge
Endereço: Praça Antônio Prado, 16 - Centro
Horários: 12h às 23h
Restaurante Guanabara
Endereço: Avenida São João, 128 - Centro
Horários: 11h às 22h
Mercearia Godinho
Endereço: Rua Líberro Badaró, 340 - Centro
Horários: 7h às 18h45