Cordel - Quem Tem Crespo é Rainha

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por Jarid Arraes Para quem não compreende Me disponho a explicar O problema do racismo Que a tudo quer mudar O cabelo é o primeiro E também o derradeiro Que o racismo quer barrar. Nesse mundo de racismo Tudo é padronizado O cabelo é escorrido Natural ou alisado E o cabelo cacheado Que acaba repudiado Do padrão é rejeitado. Tem uma tal de escova Que eu chamo "regressiva" Que estica o cacheado Na maior forma agressiva E a peste custa caro É por isso que eu falo Que essa praga é invasiva. As meninas vão crescendo Aprendendo o que não presta Vão achando dos cabelos Uma ideia desonesta Na torpe separação Nessa branca enquadração Asquerosa da mulesta. Bem pequena a menininha Já aprende a se odiar Na tristeza, bem novinha Seu cabelo quer alisar Pois a vil sociedade Só repete o disparate Para o crespo machucar. Esse tipo de veneno É um mal muito profundo Pois mutila a autoestima Torna o ódio mais fecundo E a menina a se odiar Tudo nela quer mudar Para se encaixar no mundo. Quem não vê está dormente Pois é grande a agressão Colocar na chapa quente Não se pode ser lição Pois o ferro é violento É um troço peçonhento Contamina o coração. Imagine que terrível Só ouvir palavra hostil O racismo não respeita Nem o ser que é infantil Pra criança já obriga Uma ideia que castiga Mas é forte no Brasil. Falam que é cabelo ruim Ou que é difícil cuidar Falam mil barbaridades Pra menina envergonhar O racismo é opressor É cruel, dominador E só faz subjugar. É por isso que devemos Aprender a dizer não Ao racismo alisado Cara lisa fi do cão Pois a nossa resistência É mais pura sapiência É nossa a revolução. Eu começo por aqui Dando minha opinião Acho lindo esse cabelo Bem armado, bem altão Seja com cacho formado Seja bem mais encrespado Uma linda inspiração. Coisa linda é o cabelo Todo livre e natural Coisa bela a cabeleira Armada e fenomenal Chama muita atenção Pela sua afirmação Com um profundo ideal. Olha só, pura beleza Esse cacho se mexendo Como pé de fruta fresca Pelo vento rebulendo No gingado do balanço É a música do avanço A certeza vai crescendo. Ensinando às crianças Precisamos propagar A beleza de ser negro De o cabelo libertar A menina empoderada Dá inicio à alvorada Para a todos encantar. E aí vem mais novidade Vem resgate do ancestral Vem turbante colorido Vem o lenço magistral Linda a africanidade Construindo a identidade De uma gente atemporal. Que beleza de turbantes Em mil cores enrolados Estampados e brilhantes Os turbantes encantados Ostentando essa cultura Com toda a desenvoltura São os panos enfeitados. O cabelo que é bem crespo Dá a forma ao seu turbante Dá volume, corpo e dança Bota um dorso deslumbrante O formato é a beleza Dessa negra natureza Que se faz exuberante. Como fosse a primavera No seu crespo vai a flor Perfumando essa cidade Dando esse ponto de cor E as flores gracejando No cabelo vão brotando Espalhando muito amor. E o black muito power Na altura é resistência O sinal de uma certeza Grande de resiliência O volume vai garfando E o poder vai aumentando Com imensa eficiência. Mas não ache que acabou Inda tem mais opção Pro cabelo que é liberto Natural de imensidão Veja a versatilidade Que se mostra numa arte Desse crespo furacão. Se o desejo é variar Você pode até trançar Fazendo uma escultura Que você deve mostrar Pelas ruas da cidade Na bonita intensidade Dessas tranças desenhar. E os dreads trabalhados Com cuidado são nutridos O cabelo é tão cheiroso Tão bonito e aguerrido Que delícia de opção É o dread a emoção Dessa gente tão querido. O racista é muito burro Acha que é superior Mas não tem diversidade Como o crespo demonstrou O racismo é uma piada Conversinha bem fiada Em si mesmo se expirou. Mas a gente negra forte Não tem medo de enfrentar Pois possui maior beleza Para muito impressionar Do cabelo e da raíz Essa estética é feliz Pronta pra africanizar. Lindo é ver uma criança Que tem black na cabeça A menina que vaidosa Com seu black prevaleça Tão sincera a alegria Poderosa essa energia Para sempre permaneça. O amor pelo seu crespo É coroa pra reinar Imponente a aparência Negritude a ensinar A beleza escurecida De orgulho fortalecida Feita para acalentar. No cordel bem encrespado Eu repasso a afirmação Vou armando essa defesa Do crespo a convicção Nesse fio de autoestima Minha raça legitima E espalha essa emoção. Não há nada de errado Em ter o cabelo crespo Pode ser bem enrolado Ou um black de respeito Pois em terra de chapinha Quem tem crespo é rainha Com exuberante jeito. FIM   Leia outros cordéis de minha autoria: Cordel Biográfico - Tereza de Benguela Cordel - Photoshop é a mulesta! Cordel – Aborto Cordel – Não me chame de mulata Cordel – Chica gosta é de mulher Cordel – O Nordeste é a Periferia do Brasil Cordel – Não tem maior fuleragem que mané conservador Cordéis Biográficos – Heroínas Negras na História do Brasil Conheça todos os cordéis: www.jaridarraes.com/cordel   Conheça também o livro "As Lendas de Dandara" - www.aslendasdedandara.com.br as lendas de dandara