Cordel - O Nordeste é a Periferia do Brasil

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Por Jarid Arraes Já dizia Patativa Grande mestre professor: Pra falar da minha terra Tem de ser conhecedor Só possui conhecimento Com bastante embasamento Quem daqui é morador. Nordestina é essa gente Que conhece a exclusão O injusto esquecimento Triste de desilusão Pois se vive condenado Invisível e renegado Feito fosse reclusão. O nordeste é preterido Já tem tempo até demais E por causa dessa sina Já de nossos ancestrais Muita gente foi simbora Desde antes té agora Vivendo nas capitais. Só que na cidade grande Nordestino vira bicho Humilhado e explorado Só tratado como lixo O trabalho e a labuta É o som que se escuta Nessa vida de serviço. Trabalhando feito escravo Sem direito ou assistência Nosso povo é oprimido Num teste de resistência No sol quente ou no frio Pelos cantos do Brasil Sem espaço pra clemência. Esse prédio tão bonito Que paulista tanto gosta Só pode ser construído Com o peso em nossas costa Sem família pra cobrar Se morreu, pode enterrar Feito um pedaço de bosta. Foi assim com os candangos Que fizeram essa Brasília E saíram de suas terras Pra viver na disbulia Até hoje esse sumiço Foi o pago do serviço Duma constante vigília. Trabalhar de sol a sol É coisa de nordestino Que batalha todo dia Pra mudar o seu destino Não tem tempo ocioso Muito menos preguiçoso Só vivendo o desatino. As mulheres nordestinas Desde cedo exploradas Na cozinha ou no bordel São ainda traficadas Ser mulher não é moleza E falando com franqueza Só nos veem de empregada. A batalha feminina É puxada e dolorida É na roça e na cidade Trabalhando por comida Com os filho abandonada É de meretriz chamada E com força reprimida. Se virar uma empregada Pra limpar a casa alheia O dinheiro é uma miséria Que não faz um pé de meia E o patrão que assedia Só demonstra a covardia Dessa elite brasileira. Muitas dessas nordestinas Que acabam no sudeste Não arranjam um trabalho Nem um salário que preste E a prostituição Vira a única opção Nesse mundo cafajeste. Para além de tudo isso Que envolve o trabalhar É notável e evidente O desejo de apagar A cultura nordestina De riqueza que ensina E só faz nos orgulhar. Já começa do sotaque Essa padronização Que imita nossa fala Nessa vil televisão E a gente é debochado Com o riso escrachado Sem contextualização. Para o povo nordestino Fica o resto do sobejo Bota a gente de piada Nesse cultural despejo Que rejeita nossa arte Faz de nós a contraparte Dum cruel e mau desejo. Quem despreza nossa gente Não esconde o que almeja Que é a nossa extinção Bem entregue de bandeja Pedem a separação Dividindo essa nação Numa linha que traceja. Mas pior é perceber O que dói é constatar Que nem mesmo a esquerda Que se diz politizar Lembra do nosso nordeste Pois só olha pro sudeste Sem querer mobilizar. Só quem fala é sudestino O lembrado maiorial Convidado em todo canto Palestrante coisa e tal O nordeste é invisível Na política risível Sem conduta e imoral. É por isso que eu digo Fácil é ser miltante E falar coisa bonita Dando uma de importante Mas na hora de provar E na prática atestar Só se mostra ignorante. Pois o reconhecimento Pro sudeste é destinado Não importa a corrente Nem problema abordado Se falar de feminismo De favela, de racismo O nordeste é apagado. Mas pra cá no Pernambuco E no Rio Grande do Norte Ceará ou Paraíba Também acontece morte Nordestino é minoria Sem nenhuma regalia E jogado à própria sorte. No nordeste tem racismo E a mulher é espancada Também tem homofobia E a travesti rejeitada Também vive nessa terra Enfrentando uma guerra Onde é silenciada. Nossa terra tem favela E a polícia é militar Aqui tem periferia Falta só tu enxergar É por isso que eu grito E nem vou falar bonito Pra paulista se agradar. Já estamos saturados Dessa discriminação Pois a nossa inteligência Não é para a servidão A gente não é capacho Dessa bando de diacho Elitista fi do cão. Eu não mudo meu sotaque Nem meu termo imponente A riqueza da minha terra Que é falada pela gente Como disse o Suassuna Minha língua é Jaguaruna E não troco meu oxente. Com orgulho falo alto Essa pátria me pariu Como filha nordestina Dessa força feminil Me calar não poderia Eu sou da periferia Da perifa do Brasil. FIM   Leia outros cordéis gratuitos na Fórum: Cordel – Aborto Cordel – Não me chame de mulata Cordel – Chica gosta é de mulher Cordel – Não tem maior fuleragem que mané conservador Cordéis Biográficos - Heroínas Negras na História do Brasil Para conhecer e encomendar meus cordéis, visite: www.jaridarraes.com/cordel   Foto de capa: Reprodução