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CULTURA
el
Por Jarid Arraes
Quero usar minha poesia
Pra falar de algo forte
De um problema social
Que já causa muita morte
Condenando as mulheres
E roubando-lhes a sorte.
É o aborto clandestino
Feito na ilegalidade
Na sujeira e no terror
Na vulnerabilidade
Respaldado por machismo
E por religiosidade.
O aborto é proibido
Com três casos de exceção
Se causar algum perigo
Não se faz objeção
Se tiver risco de morte
E do feto malformação.
Também é legalizado
Se o estupro acontecer
A mulher pode abortar
Se assim ela escolher
Pois bebê da violência
Não é obrigada a ter.
E o caso mais recente
É o de anencefalia
Que há pouco liberado
Deu-se numa agonia
Mas no fim legalizou-se
Para a nossa alegria.
São apenas nesses casos
Que a mulher pode abortar
Se rolar um acidente
Ninguém poderá ajudar
Se quiser ficar tranquila
Não invente de embuchar.
No entanto, minha gente
Não se consegue impedir
Se a mulher engravidar
Não querendo mais parir
Se ela escolher abortar
Essa lei vai descumprir.
A mulher desesperada
Procurando a solução
No aborto clandestino
Vai buscar sua opção
Mesmo sendo perigoso
Faz-se a interrupção.
Sem ajuda, sem auxílio
Ela faz tudo escondido
Usa chá e usa cabide
E um remédio desmedido
Vai sofrer com sangramento
E ventre comprometido.
Corre então ao hospital
Vendo seu sangue escorrer
Sufocada de vergonha
E com medo de morrer
E ainda tem é sorte
Se puder sobreviver.
Muitas vezes denunciam
Pois não sentem piedade
Acham que ela tem culpa
Fazendo uma crueldade
Sobra muita hipocrisia
Nessa vil sociedade.
Estatísticas não mentem:
Sofre mais a pobre, a preta
Já que o dinheiro oferece
Pro aborto uma faceta
Que é pagar nas escondidas
Noutro lugar do planeta.
Peço então sua atenção
Tente enfim compreender
Que o aborto ilegal
Só condena a morrer
A mulher entristecida
Sem saber o que fazer.
Não se deve legislar
Com base em religião
Pois a fé é relativa
E questão de opinião
Então para argumentar
Deve-se usar a razão.
Quem achar que é pecado
Pode livre assim pensar
É só não fazer o aborto
Seus princípios preservar
Afinal, é sua escolha
E ninguém pode forçar.
Mas o mesmo também vale
Para quem não vê problema
Abortar é uma escolha
É privado esse dilema
Ninguém pode impedir
Nem impor algum sistema.
O governo e o estado
Laicos sempre devem ser
Pois assim se assegura
Liberdade para crer
E pra não ter fé alguma
Cada um que vai saber.
De um jeito parecido
É o corpo da mulher
Que pertence só a ela
Pra fazer o que quiser
Ela escolhe como agir
E ninguém mete a colher.
Vários países do mundo
Decidiram então mudar:
O aborto é permitido
Para quem o desejar
Com apoio e segurança
Pra mulher auxiliar.
Onde o aborto é legal
Há muito mais igualdade
As mulheres já não morrem
Pela clandestinidade
Com amparo e acolhimento
Elas têm mais liberdade.
As mulheres não merecem
Viver nesse sofrimento
É por isso que lutamos
Fazendo esse movimento
Pela vida das mulheres
E seu desenvolvimento.
A maternidade é livre
Pra mulher que a desejar
Se assim for decidido
Se assim ela almejar
Ninguém pode isso impedir
Ninguém pode isso obrigar.
Gravidez não é castigo
E não deve ser imposta
Direitos reprodutivos
É do que a gente gosta
Educar pra prevenção
É parte dessa proposta.
Que os jovens já aprendam
Toda forma de cuidado
Camisinha e comprimido
Dum jeitinho adequado
E pra caso de emergência
O socorro bem prestado.
Ouça bem meus argumentos
E sem falso moralismo
Reconheça que mudando
Há mais chance de otimismo
Se disponha a estudar
Também sobre o Feminismo.
No Brasil a gente luta
Por mudanças importantes
Para todas as mulheres
Não apenas as gestantes
É na união das forças
Que seremos exultantes.
Eu também tenho certeza
Que você já ouviu falar
De alguém que abortou
Por questão de precisar
Não se trata de maldade
Mas sim de necessitar.
Dê um jeito na preguiça
E se ponha a pesquisar
Argumento tem de monte
Para assim te explicar
Que legalizar o aborto
Nada vai prejudicar.
É direito das mulheres
Por direito de viver
Liberdade de escolha
Para se fortalecer
Que a força feminina
Possa então prevalecer.
Outros cordéis:
Cordel - Não me chame de mulata
Cordel - Chica gosta é de mulher
Literatura de Cordel Feminista:
www.jaridarraes.com/cordel
Foto de capa: Reprodução